sábado, dezembro 20, 2008

O Presépio!!!

Maravilhosa "invenção" de S. Francisco de Assis que, em 1223, teria montado o primeiro presépio, na floresta de Greccio, para que, assim, os camponeses, seus conterrâneos e contemporâneos, compreendessem melhor o nascimento de Jesus. O acto ganhou raízes, espalhou-se pelo mundo cristão e chegou à minha Aldeia. Quando nasci, já lá estava. E é desse(s) que venho falar! O primeiro presépio que eu vi era pequenino, pobre e simples como as gentes a quem se destinara. É uma das mais remotas lembranças da minha vida. "Aparecia" no altar dedicado a Nossa Senhora da Graça e ali ficava até ao Dia de Reis. O grande "salto" dá-se pelo meus 8 ou 9 anos e foi uma das maiores surpresas da minha vida!!!
Durante o ano, na missa dominical ou nas de outros dias festivos, os gaiatos da catequese costumavam ficar no lado do altar-mor, nem sempre se comportando muito bem, e só o olhar autoritário do P. José Maria "metia na linha" aquela garotada tirada, por momentos, à tutela dos pais. Foi assim durante muitos anos: homens lá para cima, no coro alto da igreja; mulheres e garotas na zona do "rés-do-chão" e os miúdos ali, à esquerda do altar. Ora, num dia de Natal, por volta de 1950, todo o "nosso" espaço apareceu ocupado com um presépio lindíssimo, oferta da Casa F., dizia-se, que me deixou completamente atordoado. Eram figuras de barro muito belas, majestosas: Maria, José e o Menino numa cabana de encantar; lá atrás, o burro e a vaca; pendurados de maneira habilidosa, os anjos seguravam uma faixa artísticamente desenhada com a frase "Gloria in excelsis Deo... "; no campo, em redor, um vasto tapete de musgo, os pastores e os seus rebanhos; lá ao fundo, os Reis Magos montando garbosos cavalos - tenho a vaga ideia de um deles vir em cima de um camelo. Nunca os meus olhos de criança de aldeia haviam mirado tamanha maravilha. Sempre que podia, escapava-me para dentro da igreja e ali ficava, "amarrado", numa atitude quase mística, em contemplação daquela cena "do outro mundo" e nunca antes sonhada. Em cada ano, lá vinha a surpresa final: no Dia de Reis, como por magia, as montadas já não estavam lá e os Magos apareciam, em frente da imagem do Menino, em adoração e oferendo-Lhe ouro, incenso e mirra.
Com o decorrer do tempo, progredindo na catequese, fui sendo convidado para ir com os nossos seminaristas, de férias, apanhar o musgo e o amor ao presépio tornou-se mesmo uma paixão da minha infância e da minha adolescência.
Os anos passaram, os seminaristas eram cada vez menos, regressara à Aldeia com o Curso a que me dedicara e por ali fiquei. A "promoção" por que tanto ansiara chegou, por fim, com naturalidade: jovem professor de aldeia, com muito tempo livre e poucas oportunidades de o ocupar - a leitura foi o passatempo preferido - sem dificuldade tornei-me um dos responsáveis pela construção do presépio paroquial. No dia 24 de manhã, era combinado, um grupo de jovens, adolescentes e crianças lá ia até ao pinhal das "Colmeias", onde o musgo era de primeira qualidade, cada um esforçando-se por tirar daqueles "barrocos" de granito a "manta" de musgo que iria atapetar a "casa" do Menino Jesus, em cada Natal. E garanto-vos que o desafio "obrigava" a que todos dessem o seu melhor e o resultado final só podia ser um: vários cestos de musgo com que, na tarde desse dia, seria construído o presépio dos nossos sonhos, colocando com as nossas próprias mãos aquelas figuras encantadoras que fizeram tantas crianças e adultos sonhar com um mundo melhor, tão belo com era aquele que os nossos olhos ali contemplavam.
Veio o serviço militar, a mudança de vida e tudo ficou para trás menos esta tão grande saudade de tempos que não voltarão.
Os "anjos" cantam...

2 comentários:

Américo Valente disse...

Mais um belo conto, desta vez sobre o presépio. No Vale creio que era idêntico. Tenho uma vaga lembrança de construir o presépio na Igreja em 1958, com os amigos da catequese. Foi o único Natal que passei lá. Tinha 10 anos de idade.
Abraço

Unknown disse...

Novamente as mesmas lembranças, os mesmos passos. Ainsa bem que os descreve com esta mestria. Que belas lembranças, ida à escola e depois todos para a serra d'Opa ao musgo para fazer o presépio. Presépio esse que ainda hoje é o meu encanto (apesar de este ano o achar tão pobrezinho), assim como a ida à Missa do Galo, Cantar o Menino Jesus, ir ao madeiro que aquece o Menino.