quarta-feira, março 25, 2009

Adeus, Mimi!!!

Foi há muitos anos, em África, que conheci a Mimi. E o seu marido, camarada de armas, o António. Jovens e lindos, pais de um garoto encantador e traquinas, o Zé. Estávamos em 1967 e vivíamos na Ilha e Cidade de S. Tomé.
Recém-casado com a minha mulher, não era fácil conseguir habitação no Bairro Militar, por força de um regulamento - mais tarde alterado a meu requerimento - que dava prioridade aos militares do quadro, em detrimento dos milicianos, o meu caso. Em desespero de causa, falei com o casal Pedrosa, no sentido de partilharem a sua casa connosco. Sabia que era um pedido complicado, pois as casas, embora confortáveis, eram acanhadas. O não estava certo; havia que procurar o sim. Que aconteceu. Com simplicidade e generosidade. Foi o ano mais belo das nossas vidas. Partilhámos casa, refeições, conversámos, fomos à praia e a passeámos. Rimo-nos e divertimo-nos. Os jogos de cartas, ao serão, foram inesquecíveis. Naquele tempo não havia TV e a única rádio local fechava às 21 horas. Tivemos ocasião de reviver uma dessas "jogatanas a feijões", ainda que só por um serão, anos depois, na nossa casa de Setúbal.
Nós, os noivos, estávamos pouco interessados no resultados da "sueca". O António, portista ferrenho, tinha um perder difícil, sobretudo se a Mimi, sempre descontraída, alegre e feliz, lançava para a mesa a "carta errada". Enfim, para tudo acabar bem, emparceirava eu com ela e o António com a Leonilde. Era remédio santo, independentemente do resultados dos jogos. Foram uns meses inesquecíveis, embora alguma "birra" nocturna do Zé, então com pouco mais de 2 anos, desestabilizasse o descanso nocturno de todos, uma vez por outra. Foi nesta fraterna convivência que ocorreu o nascimento da nossa filha.
A comissão militar do António terminou antes da minha, a sua generosa partilha de habitação findou também e por lá ficámos mais uns tanto meses. O assunto de nos ser atribuída casa foi sendo adiado - conseguimo-la a um mês do fim da comissão, por recurso atendido pelo CDMT Militar. No entanto, a amizade com estes Amigos do coração seria para sempre. Raramente próxima, fisicamente. Mas permanente, eles lá junto ao Mondego, nós por aqui, nas margens do Sado. Sempre grata da nossa parte. E despida de "direitos" da parte deles. Fácil, portanto!
Há uns anos atrás veio-nos a notícia de que a saúde da Mimi não ia bem. Doença bem perigosa. Operação para cá, corte para lá e a Esperança renascia. Para logo depois se começar a diluir. No IPO de Coimbra fazia-se o que era humanamente possível. Mas a Ciência não consegue tudo. Nem a ida ao estrangeiro impediu o inevitável. A Mimi, que espalhara alegria a rodos, a fiel companheira do António, Mãe de 2 filhos encantadores, Avó de 4 netas lindas que eram todo o seu enlevo e que muito a amavam, deixou esta vale de lágrimas, em 21 de Março passado. Estivemos em Coimbra para um último adeus. Explicámos à Guida e ao Zé que ali fôramos porque os Pais tinham sido muito bons para nós.
Até um dia, querida Maria Lúcia. Coragem, capitão Pedrosa. Com os Filhos e netas vai ser menos pesada a cruz para tamanha saudade. De um Amor muito ferido. Contudo, mais forte que a Morte. Coragem. A nossa gratidão pela vossa generosidade será até ao nosso último alento. Nunca vos esqueceremos. Obrigados. Estávamos na rua e vós nos acolhestes. Isto vos será perguntado, no momento da Verdade. Sim, vós o fizestes!
O piano ajuda-nos a dar expressão à nossa tristeza:

quinta-feira, março 19, 2009

A meu Pai, a todos os Pais...

Foi há muitos, muitos anos que conheci o meu Pai. Desde pequenino, senti o valor da sua presença: doce, alegre, trabalhador, honrado, homem bom, bom Pai. Enorme força moral a que sempre pude agarrar-me!
Os anos passaram num instante. Até aos 88 foi um "a ver se te avias". O tempo, é realmente o nosso maior inimigo. Até o Mal conseguimos vencer, só o tempo não. Em 2000, "foi chamado" e ficou-me esta enorme saudade. Mas também a alegria, a sorte, a felicidade de lhe ter chamado Pai. Obrigado, António Serrano, por ter sido meu Pai. Um grande, um enorme Pai. Sabe que nunca o esquecerei, até nos voltarmos a encontrar.
Procurando seguir o seu exemplo de honestidade e de saber, tentei continuar a sua obra nos seus netos. Acho que não o desiludi: quatro netos lindos, competentes, honrados, apreciados. Como um dia disse à minha Mãe e sua fiel companheira de 48 anos, a "dívida" de criar um filho não tem preço, pois é impossível pagar Amor. Transmito-o aos seus netos e agora também aos seus bisnetos.
Escolhi a imagem de S. José para ilustrar o modelo de Pai: confiante, amoroso, generoso, decidido, seguro. Um Homem! A ele eu peço que os pais de hoje, como o meu acreditou, sejam capazes de aceitar que, para desempenhar a quase mais difícil profissão do mundo - a mais complexa é ser Mãe - para a qual não há licenciatura, nem formação, nem mestrado, nem doutoramento, muito menos MBA's têm de "apostar" naquelas cinco vertentes: confiar que criar um filho é um desígnio de Deus; amar esse filho mais do que a própria vida; ser generoso a ponto de que nada lhe falta, especialmente afectividade e o pão de cada dia; ser decidido e firme para que o filho não sinta que o "seu" pai é gelatina nas suas mão, plasticina que molda a seu "prazer" - qualquer Criança detesta" um adulto "invertebrado" e "adorará" "fazer-lhe a vida negra"; seguro a ponto de o SIM ser SIM e o NÃO ser NÃO, palavras mágicas que, usadas com inteligência e discernimento, muito ajudarão na construção de pessoas de carácter, bem formadas, capazes de ser moderadas na fortuna e fortes na adversidade, compassivos com os que sofrem e valentes com os orgulhosos. Cidadão de primeira linha, cabeça levantada, frontal, respeitador, responsável, solidário, competente e sábio na Virtude e na Ciência!!! Uma jóia, o sonho de qualquer Pai!
Distraí-me e quase me esquecia de dizer:
- Amo-o, meu Pai, e não me esqueço de si!
- S. José, rogai por todos os Pais, especialmente os mais frágeis, "escravizados" dos caprichos de filhos, a quem ensinaram que tudo lhes é permitido.
Educar é mais do que instruir, é construir.
Depois desta "seca" aí vai, numa linda canção, a história que podia ser a minha. Que tive a sorte de conhecer e amar um Pai presente, que não me despachava com prendas mais ou menos caras, redutoras, frustrantes para que o "deixasse em paz..." Felizmente, ele não tinha dinheiro para as comprar, mas era senhor de muito Amor para me dar. E aos meus Irmãos!!!
Mais do que prendas, cada Filho precisa de atenção, firmeza, segurança, paz, família, razoabilidade... O "deixa andar" é o que qualquer Criança detesta, pois o desinteresse, mesmo embrulhado em "carradas de prendas", é grande inimigo da construção da felicidade infantil.
http://www.youtube.com/watch?v=TiQ1vDtZdAk&feature=related

domingo, março 15, 2009

Rouxinol... onde estás???


CANTILENA

Cortaram as asas
ao rouxinol
Rouxinol sem asas
não pode voar.

Quebraram-te o bico,
rouxinol!
Rouxinol sem bico
não pode cantar.

Que ao menos a Noite
ninguém, rouxinol!,
ta queira roubar.
Rouxinol sem Noite
não pode viver.
(Sebastião da Gama)
Revisitando a obra do querido e doce Sebastião da Gama, escolhi estes versos tão suaves, tão verdadeiros e tão lindos.
Não tendo conseguido descobrir a magnífica canção de Francisco Fanhais com este poema, que conheço desde os anos 60, quando era "complicado" cantá-la, deixo André Rieu e sua orquestra, acompanhados a canto de rouxinol, imagens magníficas, em "Nachtigall Serenade".
"Adoro" o canto desta ave tão "apaixonada", nas noites de Primavera, lá na nossa Beira!
"Chique de doerrrr..."

sexta-feira, março 13, 2009

Ir a Aldeia...

Há que tempos eu não passeava pelas ruas da nossa Terra. A alegria de lá chegar, a tristeza de a deixar. Ali, sentimo-nos bem. E fazemos com que se ELES se sintam bem. Que pensamos neles. Que também amamos aquele pedaço do Mundo que nunca tiveram a coragem de deixar. Melhor dizendo: onde eles tiveram a coragem de ficar. Ou também de lá regressar. Para sempre.
Foram 4 dias que passaram num instante. Contando os da ida e do regresso. Verdadeiramente, só dois! O que vi, ouvi e senti não foi muito diferente das visitas já passadas. Cada vez mais velhos, cada vez menos gente. Quase sempre um funeral. Desta vez o do José Martins. Era eu miúdo quando lá apareceu com uma "carripana" "Morris", que tinha a particularidade de quase nunca pegar. De bateria nem pensar. Com a manivela... raras vezes. Há que tempos que isto foi. A garotada, eu que me incluía, aos montes ali no adro da igreja, era então convidada a empurrar até "aquilo" "pegar de esticão"! O que não era garantido, à partida, Se "aquilo" arrancava mesmo, no meio de fumarada, soluços e estrondos pouco comuns nos dias que correm, era uma alegria. O José Martins, na época um rapazão na casa dos vinte anos e tantos, nunca nos deixava ficar mal: atulhava a caixa fechada com os que lá cabiam (e mesmo que não coubessem havia sempre "espaço") e era boleia garantida. Uma festa para os "sortudos". Foi o primeiro "automóvel" particular em que "viajei". Ora, desde há dois dias, que "já lá está..." Como diz cada um daqueles idosos, talvez esperando não ser o próximo. Ou querendo ser???!!! Por "precaução", ainda se ouve rezar, como que a medo, "pelo primeiro dos presentes que faltar". "Cautela e caldos de galinha..." e/ou "homem prevenido vale por dois..." Ou por nenhum!
Os campos estão quase todos ao abandono e lá crescem os codeços, as giestas e as estevas. Os vastos pinhais e os enormes sobreirais, os castanheiros, os carvalhos... são quase só lembranças do passado. Os que o homem não cortou, "o inferno" os levou. A alegria da Primavera florida ainda não os cobre. Com más perspectivas, pois o Inverno foi perigosamente seco. O regato do Lavadouro não leva uma gota de água, completamente seco e não pude deliciar-me com o som da sua pequena cascata, que tanto me encantava, na minha longínqua infância. E este regato, a correr, em Março, é a justa medida de um Inverno capaz. Inquirindo de um vizinho, ali ao lado de um pouco de terra que por lá me restou, sobre o futuro da sua pequena horta, mesmo à beira do "Povo", lamentou-se de que o poço tinha pouca água. Uma desgraça nunca vem só: não há quem trabalhe a terra e aquele septuagenário esforçado não tinha água que compensasse o seu esforço. Em Março...
De dia, com num céu bem azul, o Sol aquecia a terra e as pessoas. As noites eram frescas e o aconchego da lareira soube-me a tempos que não mais voltarão.
De passagem por Penamacor, fui tomando conhecimento do "foguetório" a preparar-se para comemorar os 8º. centenário do foral dado ao nosso Concelho, "dado" por D. Sancho II. É giro celebrar os reis, no quase centenário da República. Não, não desdenho da História, mas acho "piada"...
Infelizmente, assumira compromissos muito longe dali e não poderei participar nas conferências levadas a cabo, amanhã, por gente de saber. Como ficaria contente de encontrar e ouvir o ilustre Coronel Dr. Pires Nunes, talvez a pessoa que mais sabe de castelos, em Portugal. Um grande Amigo do nosso Concelho. Aí comandou a extinta 1ª. Companhia Disciplinar, após o "25 de Abril". Um Homem de bem, de saber, de leal e nobre carácter.
Li de ponta a ponta o "livro" que se editou para comemorar o Centenário da nossa Banda, d"A União de Aldeia de João Pires". Confesso que fiquei decepcionado e desgostoso. Decepcionado porque 100 anos merecem muito mais e o Dr. Lopes Marcelo é capaz de tal tarefa. Perdôe-se-me a presunção de "avaliador", mas aquilo parece mais um TPC feito à pressa. Desgostoso porque, ou por espírito trapalhão - o até que se pode desculpar - ou por maldade, há um nome que, em meu entender, NUNCA poderia ser omitido, o do nosso pároco, Padre José Martins Gonçalves Pedro. Por muitas "cambalhotas" que depois tenha dado, fosse qual fosse o destino que quis para a sua vida, é inquestionável o impulso proporcionado à UNIÃO, que culminou na ampliação da sede, na instalação do Centro Paroquial Social - uma novidade para a época! - e do posto médico e na contratação do Mestre Carlos Osório - também quase omitido. Foi um período bem brilhante da nossa Banda, com a qual desfilei, vaidosamente, nos meus 19 anos, pelas avenidas de Castelo Branco. Foi também o então Padre Zé Pedro que, tendo a noção de que a Educação poderia libertar a nossa gente, dá um pontapé para a frente com a fundação do Colégio de Medelim. Apoiado por muitos amigos, congregando muitos esforços e boas vontades. Mas foi ele o "motor"! Conheço gente muito bem colocada na vida que passou por lá. A quem foi dada esssa oportunidade. Nunca o poderemos esquecer. E eu não fui disso beneficiado. Só com trabalho. Sei que as coisas depois não lhe "correram bem". Um espírito forte em carne fraca. Mas ninguém poderá apagar a sua passagem por essas Aldeias, por esse Concelho, por essa Região. Tenho orgulho de ter sido seu Amigo. De o ter sabido meu Amigo. E muito gostaria de lhe dar um abraço, onde quer que esteja... Se ainda viver. Oxalá que sim!
Levem lá estes dois "sons" fantásticos. Independentemente dos gostos...
Sim, eu sei que estamos na Quaresma, mas descobri esta "preciosidade... As "janeiras" com a música e letra com que eu as cantava:

quarta-feira, março 04, 2009

Vergonhas!!!!!

Há pouco mais de uma semana, assistimos à festa de entrega dos "Óscares" com que a Academia de Hollywood premeia os que podem ser os melhores filmes (e afins) do ano anterior, nalguns casos também aquele(s) que possa(m), em dado momento, ser mais "politicamente correcto(s)".
Como sempre, foi uma festa de gente de "barriga cheia" para gente com a "barriga cheia"!!! Um luxo e mil vaidades que escandalizam muitos e embasbacam outros mais...
A certa altura do espectáculo, um cavalheiro, de seu nome Sean Penn, todo vaidoso por receber um dos prémios pelo seu desempenho em papel de político homossexual, tem a "lata" de se sair com uma tirada mais ou menos nestes termos: "Daqui a uns anos, os nossos filhos e netos vão ter vergonha dos que votaram contra os casamentos 'gay'..." Deve ter-se referido à votação livre e democrática do estado da Califórnia, que não foi favorável às suas ideias... No entender de certos "democratas" as escolhas com resultados que contrariam as suas opções são "uma vergonha"...
Ora, num momento tão difícil que o mundo atravessa, o senhor Sean Penn devia, ele sim, ter vergonha de não ter aproveitado aquele momento para dizer:
- Os nossos filhos e netos vão ter vergonha da gente sem vergonha que, com negociatas e corrupção, levou a economia mundial à falência; os nossos filhos e netos vão ter vergonha dos milhões de desempregados que vivem momentos de desespero; os nossos filhos e netos vão ter vergonha dos milhões de crianças que deixámos morrer à fome e de doença; os nossos filhos e netos vão ter vergonha de saber que há pessoas, milhões de pessoas, que não têm casa e dormem ao relento; os nossos filhos e netos vão ter vergonha de lhes destruirmos os rios, as florestas, os mares, a terra e de lhes deixarmos o ar irrespirável; os nossos filhos e netos vão ter vergonha dos massacres, genocídios e holocaustos que fomos "semeando", por esse Mundo fora, com requintes de crueldade nem sequer praticados pelos animais ditos ferozes...
O referido cavalheiro Sean Penn, na sua arrogância e cegueira - os "casamentos" de homossexuais serão problema menor para os nossos filhos e netos, se isso lhes interessar... - nem se deu conta de que um outro filme, que andava pelas ruas e à volta das dificuldades dos que nada têm, ganhou ao seu com 8 "Óscares". Que "grande abada"!
Os milhões e milhões de pessoas que agora vivem com tamanhos sacrifícios que "bradam aos céus" querem é que os nossos governantes lhes dêem pão, saúde, paz, educação e habitação. De "barriga cheia" é fácil "estar preocupado" com os "casamentos" dos homossexuais... Aliás, tema para os políticos inaptos nos distraírem das nossas verdadeiras necessidades...