Magna Assembleia
Reunidas em soleníssima sessão
As Musas antigas e modernas também,
Discutem, fervorosamente, se sim ou não,
Me fazem poeta ou só Zé-ninguém.
Vindas de Norte, Sul, Oeste e de Leste,
Gregas, troianas, bretãs, até romanas,
Nunca foi visto concílio como este
Para discutir uma causa Lusitana.
Quiseram as Tágides, mais as do Mondego,
E a pastoril Beiroa, todas simples mas belas,
Avisarem-me baixinho, quase em segredo,
Que não seria fácil a guerra com elas.
Começou Euterpe, a rainha do canto,
Falas melodiosas, muito engraçada:
- Nada lhe darei, digo, por enquanto:
Nem lira, nem harpa, nem voz bem timbrada.
Logo a bela Serrana se ergueu por mim,
Simples resposta, excelente intervenção...
- Desculpai, Senhora, não será só assim
Por ele ser apenas um pobre beirão?!
- Não vos amofineis, insensata donzela,
Mas vejo a coisa de maneira diferente...
É preciso ter muito siso e cautela
Se desconhecemos quem temos em frente.
As Ninfas e as Tágides ficaram caladas;
Mal me conhecem, não ousam falar.
Mas a pastoril Beirã não cede por nada,
E a dona da música teve que se calar.
Diz Melpómene, em tom conciliador:
- Não façamos disto uma grega tragédia...
Se o rapaz não for músico, nem cantor,
Poderá dedicar-se então à comédia!
- Quereis passá-lo para mim? - pergunta Tália
Mostrando uma grande animosidade...
- Não conheço gente que não seja de Itália;
Não tem p'rá comédia jeito nem idade.
As Ninfas e as Tágides não se contiveram
Agarrando Tália pelo longo cabelo...
- Nunca os Romanos, os Lusos venceram,
Se ainda o não sabes, vais agora sabê-lo.
Gerou-se uma balbúrdia e tal confusão!...
Umas para um lado e outras para outro...
- Senhoras meninas, que é isto?... Então?!
Tanta discussão só por causa de um louco?!
Mas não gostou minha formosa estrela,
Que a elegante Terpsícore me chamasse louco,
Levantando-se de um salto, foi-se ali a ela,
E, se a não fez dançar, faltou muito pouco.
Falou, então, Clio, mãe da eternidade,
Num tom conciliatório e até cortês:
- Façamo-lo poeta; que cante só a saudade,
O doce sentimento do Povo português.
Com blusa decotada e seio provocante,
A fascinante Erato sabe bem o que quer,
De seus olhos verdes saem raios brilhantes,
Vê-se bem que não é Musa qualquer.
Veste de maneira ousada, atrevida;
Uma mini-saia bem acima do joelho.
Não sei se meia nua, se meia vestida,
Fazendo esquecer o mais sábio conselho.
Passemos adiante, deixemo-la p'ra logo,
Falemos apenas do que aqui se passou...
Acendeu-me nos lábios desejos de fogo,
Se mais não conseguiu, foi porque não tentou.
Não porque o não quisesse, ou desejasse,
Mas sendo a brejeira, linda filha de Zeus,
Travou-me a razão, antes que me queimasse,
Evitando colar meus lábios nos seus.
Ela sabe que a sua beleza inebria,
E diz, entre gestos de luxúria lasciva:
-Vem aos meus braços, se amas a poesia,
Ou também tens medo de beijar uma diva?
Gozando com a provocante atitude:
- Tu queres ser poeta?!... Pois sê-o então.
Não te gabo a sorte, mas fiz o que pude
Ao dar-te os dons de um pateta poltrão.
Pede às Ninfas e Tágides seu auxílio,
(E fingindo beijar-me em provocação...)
- Nunca serás Homero, muito menos Virgílio,
Não passarás, meu pateta, de rude Beirão.
Ergue-se, felina, a Leoa Lusitana,
Ninfas e Tágides se lhe juntam, em protesto.
- Quem sois vós, gregas, troianas e romanas,
Senão ralé, plebe vulgar, filhas de incesto?
Querendo chamar toda a gente à razão,
Disse Calíope, com muita indulgência:
- Não, nunca será só um poeta poltrão,
Eu lhe concedo um pouco de eloquência.
Mas os ânimos não ficaram sossegados,
Porque Terpsícore de modo contrafeito
Declarou: - Vou dar-lhe pés tão pesados
Que para a dançarino nunca terá jeito.
- Desconheceis o querer e força deste Povo?
( Gritou a Beiroa, com um fulgente olhar.)
- Venceu o mundo velho, construiu um novo,
Aqui tereis que aprender e não ensinar.
Será poeta, tudo o que ele desejar:
Guerreiro, lavrador, marinheiro, pastor.
Sábio, louco e até santo do altar,
Que o Povo Lusitano não conhece senhor.
Foram-se embora as musas de outrora,
Rabo entre as pernas e o bico calado.
Certamente, já aprenderam bem agora,
Que e a estirpe Lusa não é pau-mandado.
Ninfas e Tágides, minha Musa Beiroa,
Cantai a Gente Lusa, o Povo laureado.
Calem as antigas, por muito que lhes doa,
O seu canto roufenho e tão desafinado.
Mas aquela diva de olhos fascinantes
Tirava do sério um homem qualquer...
Há lindíssimas musas em belas amantes,
E lábios de fogo em muita mulher.
A formosa Erato com sua beleza,
Deixou em mim a suave recordação...
Ao partir, deixou-me alguma tristeza,
Também algum do seu poder e condão.
É quase certo, mas não posso afirmar,
Não sei se é real, se só fantasia,
Mas muitas vezes sinto que ela a brincar,
Vem ensinar-me a escrever poesia.
Linda, linda como o um mar das espigas,
É ver (não sei se me cale, ou se vos conte)
A mais generosa, a mais leal das amigas,
A minha Musa Beiroa, ao voltar da fonte.
À pequenina Leonor.
Não é Beiroa, mas de lá lhe venha a beleza, porque lindas são as moças Serranas.
Do tio-avô Fernando
As Musas antigas e modernas também,
Discutem, fervorosamente, se sim ou não,
Me fazem poeta ou só Zé-ninguém.
Vindas de Norte, Sul, Oeste e de Leste,
Gregas, troianas, bretãs, até romanas,
Nunca foi visto concílio como este
Para discutir uma causa Lusitana.
Quiseram as Tágides, mais as do Mondego,
E a pastoril Beiroa, todas simples mas belas,
Avisarem-me baixinho, quase em segredo,
Que não seria fácil a guerra com elas.
Começou Euterpe, a rainha do canto,
Falas melodiosas, muito engraçada:
- Nada lhe darei, digo, por enquanto:
Nem lira, nem harpa, nem voz bem timbrada.
Logo a bela Serrana se ergueu por mim,
Simples resposta, excelente intervenção...
- Desculpai, Senhora, não será só assim
Por ele ser apenas um pobre beirão?!
- Não vos amofineis, insensata donzela,
Mas vejo a coisa de maneira diferente...
É preciso ter muito siso e cautela
Se desconhecemos quem temos em frente.
As Ninfas e as Tágides ficaram caladas;
Mal me conhecem, não ousam falar.
Mas a pastoril Beirã não cede por nada,
E a dona da música teve que se calar.
Diz Melpómene, em tom conciliador:
- Não façamos disto uma grega tragédia...
Se o rapaz não for músico, nem cantor,
Poderá dedicar-se então à comédia!
- Quereis passá-lo para mim? - pergunta Tália
Mostrando uma grande animosidade...
- Não conheço gente que não seja de Itália;
Não tem p'rá comédia jeito nem idade.
As Ninfas e as Tágides não se contiveram
Agarrando Tália pelo longo cabelo...
- Nunca os Romanos, os Lusos venceram,
Se ainda o não sabes, vais agora sabê-lo.
Gerou-se uma balbúrdia e tal confusão!...
Umas para um lado e outras para outro...
- Senhoras meninas, que é isto?... Então?!
Tanta discussão só por causa de um louco?!
Mas não gostou minha formosa estrela,
Que a elegante Terpsícore me chamasse louco,
Levantando-se de um salto, foi-se ali a ela,
E, se a não fez dançar, faltou muito pouco.
Falou, então, Clio, mãe da eternidade,
Num tom conciliatório e até cortês:
- Façamo-lo poeta; que cante só a saudade,
O doce sentimento do Povo português.
Com blusa decotada e seio provocante,
A fascinante Erato sabe bem o que quer,
De seus olhos verdes saem raios brilhantes,
Vê-se bem que não é Musa qualquer.
Veste de maneira ousada, atrevida;
Uma mini-saia bem acima do joelho.
Não sei se meia nua, se meia vestida,
Fazendo esquecer o mais sábio conselho.
Passemos adiante, deixemo-la p'ra logo,
Falemos apenas do que aqui se passou...
Acendeu-me nos lábios desejos de fogo,
Se mais não conseguiu, foi porque não tentou.
Não porque o não quisesse, ou desejasse,
Mas sendo a brejeira, linda filha de Zeus,
Travou-me a razão, antes que me queimasse,
Evitando colar meus lábios nos seus.
Ela sabe que a sua beleza inebria,
E diz, entre gestos de luxúria lasciva:
-Vem aos meus braços, se amas a poesia,
Ou também tens medo de beijar uma diva?
Gozando com a provocante atitude:
- Tu queres ser poeta?!... Pois sê-o então.
Não te gabo a sorte, mas fiz o que pude
Ao dar-te os dons de um pateta poltrão.
Pede às Ninfas e Tágides seu auxílio,
(E fingindo beijar-me em provocação...)
- Nunca serás Homero, muito menos Virgílio,
Não passarás, meu pateta, de rude Beirão.
Ergue-se, felina, a Leoa Lusitana,
Ninfas e Tágides se lhe juntam, em protesto.
- Quem sois vós, gregas, troianas e romanas,
Senão ralé, plebe vulgar, filhas de incesto?
Querendo chamar toda a gente à razão,
Disse Calíope, com muita indulgência:
- Não, nunca será só um poeta poltrão,
Eu lhe concedo um pouco de eloquência.
Mas os ânimos não ficaram sossegados,
Porque Terpsícore de modo contrafeito
Declarou: - Vou dar-lhe pés tão pesados
Que para a dançarino nunca terá jeito.
- Desconheceis o querer e força deste Povo?
( Gritou a Beiroa, com um fulgente olhar.)
- Venceu o mundo velho, construiu um novo,
Aqui tereis que aprender e não ensinar.
Será poeta, tudo o que ele desejar:
Guerreiro, lavrador, marinheiro, pastor.
Sábio, louco e até santo do altar,
Que o Povo Lusitano não conhece senhor.
Foram-se embora as musas de outrora,
Rabo entre as pernas e o bico calado.
Certamente, já aprenderam bem agora,
Que e a estirpe Lusa não é pau-mandado.
Ninfas e Tágides, minha Musa Beiroa,
Cantai a Gente Lusa, o Povo laureado.
Calem as antigas, por muito que lhes doa,
O seu canto roufenho e tão desafinado.
Mas aquela diva de olhos fascinantes
Tirava do sério um homem qualquer...
Há lindíssimas musas em belas amantes,
E lábios de fogo em muita mulher.
A formosa Erato com sua beleza,
Deixou em mim a suave recordação...
Ao partir, deixou-me alguma tristeza,
Também algum do seu poder e condão.
É quase certo, mas não posso afirmar,
Não sei se é real, se só fantasia,
Mas muitas vezes sinto que ela a brincar,
Vem ensinar-me a escrever poesia.
Linda, linda como o um mar das espigas,
É ver (não sei se me cale, ou se vos conte)
A mais generosa, a mais leal das amigas,
A minha Musa Beiroa, ao voltar da fonte.
À pequenina Leonor.
Não é Beiroa, mas de lá lhe venha a beleza, porque lindas são as moças Serranas.
Do tio-avô Fernando
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