quarta-feira, novembro 07, 2012

Os fantasmas - crónica verdadeira de maldizer...


Os fantasmas
Esta coisa de escrever crónicas “é Um jogo permanente entre o estilo e a substância”. Uma Luta entre “o Deboche estilístico” do gozo da escrita e “a Frieza analítica” do pensamento do cronista. Por isso, enquanto cidadão, só posso ver este governo como uma verdadeira praga bíblica que caiu sobre um povo que o não merecia. Mas, Enquanto cronista, encaro--‐ o como uma dádiva dos céus, um maná dos deuses, “um Harém de metáforas”, uma verdadeira girândola de piruetas estilísticas. Tomemos Como exemplo o ministro Gaspar. Licenciado E doutorado em Economia, Fez parte da carreira em Bruxelas Onde foi diretor do Departamento De Estudos Do BCE. Por cá, passou pelo Banco De Portugal, Foi chefe de gabinete de Miguel Beleza E colaborador de Braga De Macedo. É O catual ministro das Finanças. Pois bem. O Cronista olha para este “talento” E que vê nele? Um Retardado mental? Uma Rábula com olheiras? Um Pantomineiro idiota? Não Me compete, enquanto cidadão, dar a resposta. Mas Não posso deixar de referir a reacção ministerial à manifestação de 15 De Setembro que, repito, adjectivava os governantes onde se inclui o soporífero Gaspar, Como “gatunos, mafiosos, carteiristas, chulos, chupistas, vigaristas, filhos da puta”. Pois bem. Gaspar Afirmou na Assembleia Da República Que o povo português, este mesmo povo português que assim se referia ao seu governo, “revelou--‐se O melhor povo do mundo e o melhor activo de Portugal”! Assumpção Autocrítica de alguém que também é capaz de, lucidamente, se entender, por exemplo, como um “chulo” Do país? Incapacidade Congénita de interpretar o designativo metafórico de “filhos Da puta”? Não Me parece. Parece-Me sim um exercício de cinismo, sarcástico e obsceno, de quem se está simplesmente “a cagar” para o povo que protesta. A Ser assim, julgo como perfeitamente adequado repetir aqui uma passagem de um texto em forma de requerimento “poético” De 1934. Assim: “A Nação confiou-lhe os seus destinos?/Então, comprima, aperte os intestinos. /Se Lhe escapar um traque, não se importe… / Quem Sabe se o cheirá-lo nos dá sorte? / Quantos Porão as suas esperanças / Num Traque do ministro das Finanças? / E Quem viver aflito, sem recursos / Já Não distingue os traques dos discursos.” Provavelmente O Sr. Ministro desconhecerá a história daquele gajo que era tão feio, tão feio, que os gases andavam sempre num vaivém constante para cima e para baixo, sem saber se sair pela boca se pelo ânus, dado que os dois orifícios esteticamente se confundiam. Pois bem. O Sr. Ministro é o primeiro, honra lhe seja concedida, que já confunde os traques com os discursos. Os seus. Desta vez, o traque saiu--‐lhe pelo local de onde deveria ter saído o discurso! Ou Seja e desculpar-me‐ão a grosseria linguística, em vez de falar, “cagou--‐se”. Para O povo português. Lamentavelmente.
Outro Exemplar destes políticos que fazem as delícias de um cronista é Cavaco Silva. Cavaco Está politicamente senil. Soletra umas solenidades de circunstância, meia--‐dúzia de banalidades e, limitado intelectualmente como é, permanece “amarrado À âncora da sua ignorância”. Só Neste contexto se compreende o espanto expresso publicamente com “o Sorriso das vacas”, as lamúrias por uma reforma insuficiente de 10 Mil euros mensais, a constante repetição do “estou Muito preocupado” e outros lugares--‐comuns que fazem deste parolo de Boliqueime Uma fotocópia histórica de Américo Tomás, O almirante de Salazar. Já O escrevi aqui várias vezes. Na Cabeça de Cavaco Reina um vácuo absoluto. Pelo que, quando fala, balbucia algumas baboseiras lapalicianas reveladoras de quem não pode falar do mundo complexo em que vivemos com a inteligência de um homem de Estado. Simplesmente Porque não a tem. Cavaco É uma irrelevância de quem nada há a esperar, a não ser afirmações como a recentemente proferida aquando das comemorações do 5 De Outubro De que “o Futuro são os jovens deste país”! Pudera! Cavaco Não surpreenderia ninguém se subscrevesse por exemplo a afirmação do Tomás Ao referir-se à promulgação de um qualquer despacho número cem dizendo quelhefora dado esse número “não Por acaso mas porque ele vem não sequência de outros noventa e nove anteriores…” Tal e qual.
Termino Esta crónica socorrendo-me da adaptação feliz de um aforismo do comendador Marques de Correia e que diz assim: “Faz De Gaspar Um novo Salazar, Faz de Cavaco Um novo Tomás E canta ó tempo volta para trás”. É que só falta mesmo isso. Que o tempo volte para trás. Porque Salazar e Tomás já os temos por cá.
P.S.: Permitam-me a assumpção da mea culpa. Critiquei Aqui violentamente José Sócrates. Mantenho O que disse. Mas hoje, comparando-o com esse garotelho sem qualquer arcaboiço para governar chamado Passos Coelho, Reconheço que é como comparar merda com pudim. Para Sócrates, obviamente, a metáfora do pudim.

Sinceramente, Nunca pensei ter de escrever isto.

Luís Manuel Cunha Professor

In “Jornal De Barcelos” De 10.10.2012

 

domingo, novembro 04, 2012

1º Convívio de ex-combatentes no Ultramar

ALDEIA DE JOÃO PIRES, 27 DE OUTUBRO de 2012.
Tendo marcado como local de reunião o adro da igreja, a partir das 10 horas, ali foram chegando, de longe e de perto, de véspera ou no próprio dia. Disseram "pronto" 25 elementos da centena dos que foram mobilizados, uns poucos como profissionais, a maior parte por conta do Serviço Militar Obrigatório.
Associaram-se ao acontecimento a Paróquia, a Junta de Frequesia e a Banda Musical.
Às 11 horas começou a jornada com a celebração de Missa em sufrágio dos que já partiram, quer na frente de guerra, quer vítimas da idade e da doença; de acção de graças pelos sobreviventes e pelas famílias de todos.
A seguir à Missa, teve lugar a romagem de saudade ao cemitério e de homenagem aos que haviam partido, com deposição de uma coroa de flores no talhão dos Combatentes, junto aos túmulos dos militares ali sepultados. A Banda, sempre presente nos momentos importantes da vida da Aldeia, com o seu Mestre e um naipe de trompetes entoou o "toque a mortos" e "de alvorada", morte e ressurreição, o momento mais emocionante de todo o convívio. O Pároco, presente com o seu Povo, dirigiu as orações de circunstância e proferiu palavras de conforto para os ex-combatentes e famílias.
O almoço, servido em condições difíceis, no café restaurante a FONTE, foi do agrado geral, num esforço bem conseguido dos seus trabalhadores.
No fim do almoço, foi escolhida a comissão que irá já começar a preparar o convívio em 2013: António Romão, Fernando Serrano e Leonor.
Pela tarde, formaram-se grupos para recordarem mais os momentos bons da sua meninice e juventude na Aldeia do que para falar das desgraças da guerra. De salientar que de um mesmo tronco, os meus avós paternos, se juntaram ali seis netos e um bisneto, todos mobilizados em terras do Ultramar.

terça-feira, outubro 09, 2012

Recordando Margarida Marante, em homenagem póstuma


A MORTE DA JORNALISTA MARGARIDA MARANTE E A HIPOCRISIA DESTA VIDA
A morte hoje ocorrida da jornalista Margarida Marante, vítima de um ataque cardíaco fulminante, não deixa de suscitar interrogações sobre a hipocrisia desta vida.Traçam-se agora os maiores encómios à actividade passada de Marante, como entrevistadora corajosa desde que começou a carreira aos 20 anos no semanário o ‘Tempo’, e, mais tarde, na RTP, onde se distinguiu nos programas de grande entrevista política,tendo integrado a equipa fundadora da SIC, onde apresentou programas como ‘Sete à Sexta’, ‘Contra Corrente’, ‘Cross Fire’ e ‘Esta Semana’.Mas esquece-se o maior drama da sua vida, que, provavelmente, levou à sua morte precoce!
Fala-se dessa carreira emérita mas esquece-se que o esquecimento a que foi votada por muitos amigos e familiares ( houve excepções!) a levou a rumar para os caminhos perigosos do consumo de drogas que arrunaram a sua vida profissional e pessoal.Nem a desintoxicação nma clinica em Navarra,paga pelo seu amigo do Opus Dei, Jardim Gonçalves,a levou a deixar esses caminhos torturosos,ela que tinha tudo para ser feliz: apresentadora temida em programas de TV, presença habitual nas revistas «cor de rosa» onde surgia ao lado do marido, Emídio Rangel, com amigos influentes – entre os quais, o ex-marido, Henrique Granadeiro, pai dos seus três filhos, homem forte da PT que sempre a acarinhou, mesmo nas horas infelizes - passando por José Sócrates e a ex- namorada deste, Fernanda Câncio, habituais frequentadores de sua casa tendo Fernanda Câncio se tornado testemunha presencial de cenas dramáticas a que foi sujeita.
Inexplicavelmente, ligou-se a Fernando Farinha Simões, um cadastrado com ligações ao Caso Camarate ( que denunciuou agora através de uma carta as várias implicações deste crime que continua impune) que dizia ter em seu poder vídeos comprometedores para personalidades influentes do meio social e político, a quem fornecia droga e apanhara em grandes orgias. Os alvos principais foram Margarida Marante e o marido, Emídio Rangel, o jornalista que conhecera quando ainda estava na prisão onde cumpria pena por tráfico agravado de droga e que o convidara a participar, como informador, num programa na forja da SIC sobre o Caso Camarate. Repudiado na sua relação amorosa com a jornalista, depois de se ter envolvido nove meses com ela, resolveu contactar o jornal «O Crime» para se vingar. O «tiro» havia de lhe sair pela «culatra»: antigo colega nos anos oitenta de Marante no semanário «Tempo», o jornalista que Simões contactara reatou o contacto com a antiga apresentadora. E foi ela quem acabou por lhe revelar todo o seu drama, recebendo-o em sua casa com lágrimas nos olhos, aliviada por saber que «o monstro que lhe atormentara a vida estava de novo preso».
Fernando Farinha Simões, que deverá sair muito em breve da prisão, era um cadastrado capaz de se dar bem com Deus e o Diabo. Antigo motorista de Sousa Cintra, foi considerado um «chibo» (informador) nas prisões por onde passou. A sua aparente simpatia e inteligência fizeram com que mantivesse relacionamentos surpreendentes, até junto dos mais altos quadros da PJ, onde gozava o «estatuto» de infiltrado junto do DCIT, o órgão de combate ao narcotráfico. Nos finais dos anos noventa, a passagem pelo estabelecimento Prisional de Pinheiro da Cruz tornar-se-ia penosa para este personagem: «Estava sempre a levar estaladas por se chibar», confidenciou um seu antigo companheiro de cárcere. Tony, o ex-namorado de Arlinda Mestre, a concorrente da «1ª Companhia», um indivíduo que esteve ligado ao grupo de traficantes do colombiano Pablo Escobar, foi um dos que afogou as suas mágoas na cara de Simões. Aliás, esta faceta de denunciante e de «fura-vidas» também se revelou no decurso dos trabalhos da V Comissão de Inquérito Parlamentar ao caso Camarate, quando Fernando Farinha Simões foi à Assembleia da República, conduzido sob escolta, fazer revelações surpreendentes. Sem pejo, FFS denunciou José Esteves, seu antigo companheiro nas redes bombistas do chamado «Verão Quente de 75», como tendo sido o homem que fabricou a bomba que fez cair o Cessna que transportava o então primeiro-ministro. Mais tarde, numa entrevista à revista «Focus», Esteves confessou ter sido um dos autores do atentado, lançando as culpas da autoria moral para as chefias militares, sobressaltadas com a iminência da revelação de comprometedora documentação na posse Adelino Amaro da Costa envolvendo-as nos desvios dos dinheiros do Fundo de Defesa do Ultramar – uma espécie de «saco azul» destinado a financiar acções ilegais, entre as quais, soubemos, a compra de armas para a guerra Irão/Iraque. Foi com o intuito de procurar tirar dividendos desses seus conhecimentos sobre o mistério Camarate, pensando num atenuação da pena, que Fernando Farinha Simões testemunhou na Comissão de Inquérito na Assembleia da República. Ao mesmo tempo, ofereceu os seus préstimos a Artur Albarran e a Barata Feyo (então responsáveis do programa «Grande Reportagem» da SIC e que preparavam um trabalho sobre a morte de Sá Carneiro). Foi desta forma que conheceu o director de informação daquele canal: «O Rangel soube que o Fernando Simões estava a par de muitas informações sobre o que aconteceu em Camarate. Resolveu contratá-lo como informador para um documentário com 12 episódios sobre o caso. Chegava a mandar o motorista da estação de TV buscá-lo num Mercedes a Pinheiro da Cruz quando ele saía nas precárias. E de informador passou a ser seu companheiro mais chegado, acompanhando-o nas noitadas», referiu Margarida Marante. O tal seriado sobre Camarate terá custado uma pequena fortuna a Pinto Balsemão – Margarida fala em 50 mil contos na moeda antiga (250 mil euros actuais) – mas a mini-série nunca foi para o ar e apenas um episódio terá sido produzido.
O relacionamento de FFS com a jornalista iria perdurar muito para além do seu divórcio atribulado com o ex-director da SIC. Marante explicou os motivos pelos quais acedeu relacionar-se intimamente com um indivíduo de passado mais que duvidoso: «Encontrava-me fragilizada depois de anos e anos de um casamento marcado pela violência com o Rangel. Por outro lado, a minha formação católica – sabe, sou do Opus Dei? – levava-me a acreditar na redenção humana. Todo o homem, por mais miserável que seja, deve ter uma segunda oportunidade. Apreciava a forma com ele amava a sua neta. E pus-me a pensar: será que eu devo duvidar de um homem que tem este comportamento tão humano, que me ampara a mim e aos meus filhos, que se mostra tão dedicado para connosco?».
A alma e a carne são frágeis. E Marante, vulnerável, assumiu esse relacionamento que acabou por se tornar demasiado íntimo. Havia também outros interesses em jogo. Atentemos no que escreveu um dos juízes relatores no acórdão da sentença da 2ª Vara Criminal que condenou Fernando Farinha Simões a seis anos e meio de prisão pelos crimes cometidos contra Marante, justificando os motivos pelos quais achava que o arguido deveria também ser penalizado por tráfico de droga: «Foi manifesto das suas declarações que a assistente sempre dependeu de outrem para obter cocaína (primeiro do seu então marido, depois do arguido) não sendo em meu entender liquido que tivesse recursos para procurar outra fonte de abastecimento, antes de deixando entregar às mãos do seu “fornecedor”, pelo menos enquanto o pudesse fazer, como fez, por ter recursos financeiros para tanto».
Fernando Farinha Simões acabou por ser condenado por três crimes de sequestro, dois por coacção grave, três por violação de domicílio, os quais praticou quando a apresentadora pretendeu acabar com a relação que se ia tornando cada vez mais obsessiva. E aí começou o terror:
«Queria mandar em tudo, até na minha conta bancária, nos cartões de crédito, na escolha dos meus amigos…Assumo que foi um erro ter ido para a cama com ele…talvez o tenha feito por me sentir revoltada. Os dias passavam e cada vez me sentia mais angustiada. Queria vê-lo fora de casa, longe dos meus filhos (que deixaram de a frequentar) e ele não me largava. Até que o proibi de ir a minha casa. Mas ele nem assim desarmou: introduzia-se no meu apartamento passando pela varanda de um andar ao lado, depois de ter subornado o porteiro do prédio. Comecei a viver dias e noites de autêntico terror. Por várias vezes, acordava durante a noite, com ele no meu quarto, aos pontapés à cama. Cheguei a barricar-me no meu quarto, mas ele partiu a porta aos pontapés», contou Margarida Marante.
Das «invasões» do domicílio às agressões e ameaças foi um pequeno passo. A antiga apresentadora chegou mesmo a ser intimidada com uma faca que FFS lhe encostou ao rosto, e, numa outra ocasião, como nos revelou a jornalista, o cadastrado introduziu-lhe o cano de uma arma «Glock» no sexo. Na 21ª Esquadra da PSP de Campolide choveram várias queixas de Margarida. Mas as suas súplicas não eram atendidas. «Provavelmente, pensavam que eu não estava boa da cabeça», sublinhou.
O rapto e sequestro para a Figueira da Foz, onde, durante o trajecto, Margarida, contou ela numa carta que enviou a amigos, alertando-os para o seu drama, chegou a ser a amarrada a uma árvore enquanto FFS lhe encostava uma arma à cabeça, poderá ter «sensibilizado», de forma definitiva, a Polícia a agir. As brigadas Anti-Crime da PSP e a DCCB da PJ entraram em campo e foi emitido um mandado de detenção contra o ex-presidiário. Este acabou por ser detido em Cascais, mas, aproveitando uma ida à consulta no Hospital de São José, acabou por se evadir.
Foi durante este interregno que Fernando Farinha Simões contactou «o Crime» para um encontro num café nas proximidades do jornal, dizendo estar na posse de provas comprometedoras para Margarida Marante e Emídio Rangel. Mas o único documento que acabou por exibir foi, precisamente, o mandado de detenção emitido por um juiz do TIC para ser conduzido sob custódia no âmbito de uma queixa apresentada pela jornalista.
Nos dias seguintes, FFS deixou de dar notícias. Havia uma explicação para o facto: é que fora detido na noite de 28 de Janeiro de 2006, à porta do prédio onde reside Margarida Marante, quando se aprestava, uma vez mais, para invadir o seu domicílio.
Mais tarde, Margarida Marante haveria confessar os motivos que a levaram a tornar públicos estes factos ( que criaram muitos «estilhaços» nos meios onde se movimentam as nossas vedetas das TV, entre as quais, o consumo de droga era assunto sigiloso) uma atitude pouco comum nas figuras em destaque nos vários quadrantes da sociedade. «Foi por causa das chantagens que! o Farinha Simões me fez, ameaçando incriminar amigos próximos, alguns deles bastante influentes na sociedade portuguesa, ameaças que iam desde o fornecimento de droga, a suspeitas sobre a sexualidade. Por outro lado, quis expiar os meus pecados. Quero voltar à vida». Um propósito que está a ser difícil de concretizar: a jornalista nunca mais foi estrela nos ecrãs da TV. Morreu agora, triste e só, esquecida pelo grande público, longe dos holofotes da fama que ela tanto ansiava voltar a recuperar.Era de facto uma grande jornalista mas escolheu mal as suas companhias que arruinaram a sua vida.Paz à sua alma !

sábado, outubro 06, 2012

Obrigado, Senhor Ministro, por João César das Neves

Há dias um pobre pediu-me esmola. Depois, encorajado pela minha generosidade e esperançoso na minha gravata, perguntou se eu fazia o favor de entregar uma carta ao senhor ministro. Perguntei-lhe qual ministro e ele, depois de pensar um pouco, acabou por dizer que era ao ministro que o andava a ajudar. O texto é este:
"Senhor ministro, queria pedir-lhe uma grande ajuda: veja lá se deixa de me ajudar. Não me conhece, mas tenho 72 anos, fui pobre e trabalhei toda a vida. Vivia até há uns meses num lar com a minha magra reforma.
Tudo ia quase bem, até o senhor me querer ajudar. Há dois anos vierem uns inspectores ao lar. Disseram que eram de uma coisa chamada Azai. Não sei o que seja. O que sei é que destruíram a marmelada oferecida pelos vizinhos e levaram frangos e doces dados como esmola. Até os pastelinhos da senhora Francisca, de que eu
gostava tanto, foram deitados fora. Falei com um deles, e ele disse-me que tudo era para nosso bem, porque aqueles produtos, que não estavam devidamente embalados, etiquetados e refrigerados, podiam criar graves problemas sanitários e alimentares. Não percebi nada e perguntei-lhe se achava bem roubar a comida dos pobres.
Ele ficou calado e acabou por dizer que seguia ordens.
Fiquei então a saber que a culpa era sua e decidi escrever-lhe. Nessa noite todos nós ali passámos fome, felizmente sem problemas sanitários e alimentares graves.
Ah ! É verdade. Os tais fiscais exigiram obras caras na cozinha e noutros locais. O senhor director falou em fechar tudo e pôr-nos na rua, mas lá conseguiu uns dinheiritos e tudo voltou ao normal.
Como os inspectores não regressaram e os vizinhos continuaram a dar-nos marmelada, frangos e até, de vez em quando, os belos pastéis da tia Francisca, esqueci-me de lhe escrever. Até há seis meses, quando destruíram tudo. Estes não eram da Azai. Como lhe queria escrever, procurei saber tudo certinho. Disseram-me que vinham do Instituto da Segurança Social.
Descobriram que estava tudo mal no lar. O gabinete da direcção tinha menos de 12 m2 e na instalação sanitária do refeitório faltava a bancada com dois lavatórios apoiados sobre poleias e sanita com apoios laterais. Os homens andaram com fitas métricas em todas as janelas e portas e abanaram a cabeça muitas vezes. Havia também um problema qualquer com o sabonete, que devia ser líquido.
Enfureceram-se por existirem quartos com três camas, várias casas de banho sem bidé e na área destinada ao duche de pavimento (ligeiramente inferior a 1,5 m x 1,5 m) não estivesse um sistema que permita tanto o posicionamento como o rebatimento de banco para banho de ajuda (uma coisa que nem sei o que seja). Em resumo, o lar era uma desgraça tinha de fechar.
Ultimamente pensei pedir aos senhores fiscais para virem à barraca onde vivo desde então, medir as janelas e ver as instalações sanitárias (que não há!). Mas tenho medo que ma fechem, e então é que fico mesmo a dormir na rua.
Mas há esperança. Fui ontem, depois da missa, visitar o lar novo que o senhor prior aqui da freguesia está a inaugurar, e onde talvez tenha lugar. Fiquei espantado com as instalações. Não sei o que é um hotel de luxo, porque nunca vi nenhum, mas é assim que o imagino. Perguntei ao padre por que razão era tudo tão grande e tão caro. Afinal, se
fosse um bocadinho mais apertado, podia ajudar mais gente. Ele respondeu que tinha apenas cumprido as exigências da lei (mais uma vez
tem a ver consigo, senhor ministro). Aliás o prior confessou que não tinha conseguido fazer mesmo tudo, porque não havia dinheiro, e contava com a distracção ou benevolência dos inspectores para lhe aprovarem o lar. Se não, lá ficamos nós mais uns tempos nas barracas.
Senhor ministro, acredito que tenha excelentes intenções e faça isto por bem. Como não sabe o que é a pobreza, julga que as exigências melhoram as coisas. Mas a única coisa que estas leis e fiscalizações conseguem é criar desigualdades dentro da miséria. Porque não se preocupam com as casas dos pobres, só com as que ajudam os pobres."
Triste País que procede assim com os pobres...

terça-feira, setembro 18, 2012

O atentado ao padre da Meimoa - os nossos vizinhos


A Meimoa é muito conhecida por causa da sua barragem, junto ao início da Serra da Malcata, onde deveria viver o lince, com belos olivais, grandes pinhais, vinhas e a famosa Ponte Filipina (que não o é) que liga a Aldeia à Benquerença e daqui aos Três Povos, Alpedrinha, Fundão, Covilhã, Serra da Estrela…

Sabia que para lá da minha aldeia existia uma outra com o nome MEIMÃO, perto do Sabugal, mas ainda concelho de Penamacor, e depressa pensei que o nome MEIMOA tivesse algo a ver com o outro. Mas não consigo descortinar parecenças…
Foi na Meimoa que me estreei na equipa de futebol dos Grandes do Vale da Senhora da Póvoa, aldeia a quatro quilómetros. Ou porque era bom a jogar, ou talvez porque faltasse alguém, o seleccionador Norberto convocou-me. Lembro-me que a dado momento, durante o jogo, a bola sobrou para mim e chutei "ao calhas" para a frente… Só dei conta de dez latagões saltarem para cima de mim (um franganote moreno, escanzelado e pau de virar tripas) abraçando-me e quase me esmagando. É que tinha marcado um golo, sem querer, é claro, mas o único do desafio.
Os rapazes da Meimoa, capitaneados pelo Nuno Moiteiro, presentearam-nos com uma grade de gasosas do Soito, que serviu para recuperar forças; ainda tínhamos que fazer os tais quatro quilómetros a pé de volta à nossa aldeia…
Houve nesta aldeia um acontecimento célebre que é uma delícia recordar! Em todas as aldeias, aos domingos, os sinos das igrejas badalavam, às 19 horas, marcando o fim dos bailes e a obrigatoriedade dos jovens irem rezar o terço. Até no nosso Vale isso acontecia, Os padres estavam combinados, era marosca, via-se… É claro que só as meninas donzelas iam, mas arrastadas pelas mães, que lhes diziam que só assim garantiam um bom casório!
Essa estória chegou-me aos ouvidos pelo meu Tio Manuel Cameira «Caixeiro», do Vale da Senhora da Póvoa e irmão do meu Avô, contada naqueles serões de Inverno junto à lareira e com os varões com "enchido verde" a pingar sobre todos. O Ti Manuel Caixeiro casou na Meimôa, por volta de 1940, com uma senhora de nome Teresa Manteigas. Foi por essas idas e vindas à Meimoa que ele ouviu esta versão do acontecido e assim ma contou.
Numa tarde de um qualquer domingo, às 7 da tarde, o sino tocou e o baile acabou, como era hábito.
O Padre Fernando, à hora do terço, deu pela falta, nos bancos compridos, de uma rapariga, a Maria Martins, já em namoro adiantado com o Tóino Berto (tudo nomes fictícios).
Não foi à Igreja, sabe-se lá onde terá estado a aproveitar melhor o tempo…
No domingo seguinte, em plena homília, no cimo do púlpito, então não é que o Padre Fernando verbera, em público, alto e bom som, que a Maria Martins (citou mesmo o nome dela) tinha faltado ao terço do outro domingo?! Que era pecado, mau comportamento, imoral, uma vergonha…
A rapariga. a chorar, foi fazer as queixas ao namorado. E fez muito bem.
A coisa parecia ficar por aí, mas, de repente, o caso deu para o torto!
O Padre Fernando era encorpado, barrigona, parecendo prenhice, à frente e, atrás, um grande, largo e gordo traseiro!
Nessa noite, depois de rezado o terço, houve alguém que, surgindo do escuro da rua, ferra uma valente e ruidosa chumbada de flobber no gordo e avantajado rabo do arrogante sacerdote…
- Aqui del-rei que querem matar o nosso santo padre Fernando!! – gritaram as mulheres, ganindo a cãozoada ao mesmo tempo!
- De certeza foi o Toino Berto! – gritaram as beatas da sacristia.
- Que nada, disse o Toino, estava a ouvir o relato do Artur Agostinho, do Sporting contra o Salgueiros, na Emissora Nacional!
Das desconfianças do autor do crime contra as gorduras traseiras do padre, passou-se "às certezas"… Foi o Toino Berto, pronto, já está!
Feita a queixa-crime contra o rapaz, na GNR de Penamacor… que ele queria mesmo era matar, tinha que ir para a cadeia, não se faz uma coisa dessas e logo ao nosso querido padre, ministro de Deus!
Foi marcado o dia do julgamento, no Tribunal da Comarca em Penamacor.
Entretanto, no «hospital» da Dona Bárbara, de Penamacor, foi retirada uma boa mão cheia de chumbinhos do bundão do padre – estou a imaginar o enfermeiro com uma pinça procurando dentro das entremeadas as bolinhas metálicas reluzentes de toucinho!
O padre foi instruído para arranjar testemunhas.
- Até tenho muitas ! – disse ele, com ar de vingança demoníaca, esquecendo o perdoar das ofensas no Pai-Nosso.
Nos oito dias antes do julgamento, houve reunião diária, mas nocturna, marcada pelo Padre Fernando, na sacristia da igreja, com meia dúzia de beatas que, assim, orquestraram o testemunho contra o rapaz… Que sim, que viram o rapaz com a arma na mão, que disparou contra o Padre…
No dia do julgamento, o juiz interrogou uma a uma essas testemunhas… e todas diziam exactamente a mesma lenga-lenga, originando desconfianças. Terá interrogado de novo cada uma das mulheres de per si para saber quem lhes tinha ensinado aquelas respostas todas iguais.
Ingenuamente, lá foram dizendo que fora o senhor sadre Fernando que as ensinou a responder daquela maneira, na sacristia, todas as noites, parecendo uma cantoria em coro…
Resultado: essas testemunhas beateiras foram todas um dia-de-cana para o xelindró a ver a Lua aos quadradinhos… e o Toino Berto foi ABSOLVIDO!
Nessa noite, na Meimoa, parecia a noite de Natal! Houve foguetes nos céus, mandaram até vir o acordeonista do Vale e comeu-se "à la gardère" um vitelo de churrasco, no centro da aldeia, bem regado com vinhaça da boa com que todo o Povo se alambazou, celebrando a vitória contra a inquisição e o inquisidor local!!
Muitos chumbinhos ficaram sossegados para sempre no rabo clerical, mais valeu isso que arriscar uma paralisia…

Jos? Jorge Cameira

«Estórias de um filho de Vale de Lobo e da Moita»

terça-feira, julho 24, 2012

É falta de Cultura, estúpido!

Por Clara Ferreira Alves, in Jornal EXPRESSO
Portugal tem hoje uma pequeníssima elite que consome cultura, quase toda velha e sem sucessores
NÓS MERECEMOS ISTO. Nós elegemos esta gente. Nós não somos muito diferentes disto. No meio do anedotário que converteria um homem mais inteligente num homem trágico, convém não esquecer o que nos separa, exatamente, do Relvas. Pouco. O dito não é um espécime isolado, um pobre diabo animado de força e disposição para fazer negócios e trepar na vida, que entrou em associações e cambalachos, comprou um curso superior e, de um modo geral, se autoinstituiu em conselheiro do rei. Já vimos isto. Nunca vimos isto nesta escala, porque na 25s hora da tragédia nacional, quando Portugal se confronta com a humilhação da venda dos bens preciosos (os famosos ativos) aos colonizados de antanho e seus amigos chineses, o que o país tem para
mostrar como elite é pouco. Nada distingue hoje a burguesia do proletariado. Consomem as mesmas revistas do coração, lêem a me
sma má literatura (que passa por literatura), vêem a mesma televisão, comovem-se com as mesmas distrações. Uns são ricos, outros pobres. A elite portuguesa nunca foi estelar, e entre a expulsão dos judeus e a perseguição aos jesuítas, dispersámos a inteligência e adotámos uma apatia interrompida por acasos históricos que geraram alguns estrangeirados ou exilados cultos permanentemente amargos e desesperados com a pátria (Eça, Sena) e alguns heróis isolados ou desconhecidos (Pessoa, 0'Neill). Em "Memorial do Convento", Saramago dá-nos um retrato da estupidez dos reis mas exalta romanticamente o povo. Todos os artistas comunistas o fizeram, num tempo em que o partido comunista tinha uma elite intelectual e de resistência inspirada por um chefe que, aos 80 anos, quase cego, resolveu traduzir Shakespeare. Cunhal traduzindo o "Rei Lear" de um lado, Relvas posando nas fotografias ao lado da bandeira do outro. Relvas nem personagem de Lobo Antunes, o (descritor da tristeza pós-colonial, chega a ser. É um subproduto de telenovela O tempo dos chefes cultos acabou, e se serve de consolação, não acabou apenas em Portugal. A cultura de massas ganhou. No mundo pop, multimédia, inculto e narcisista, em que cada estúpido é o busto de si mesmo, a burguesia e o lúmpen distinguem-se na capacidade de fazer dinheiro. Acumular capital. O dinheiro, as discussões em volta do dinheiro acentuadas pela falta de dinheiro, fizeram do proletariado (e desse híbrido chamado classe média) uma massa informe de consumidores que votam. E que consomem democracia, os direitos fundamentais, como consomem televisão, pela imagem. Sócrates e o Armani, Passos Coelho e a voz de festival da canção. Nós, e quando digo nós digo o jornalismo na sua decadência e euforia suicidaria, criámos estas criaturas. Os Relvas, os Seguros, os Passos Coelhos, os amigos deles. O jornalismo, aterrorizado com a ideia de
que a cultura é pesada e de que o mundo tem de ser leve, nivelou a inteligência e a memória pelo mais baixo denominador comum, na esteira das televisões generalistas. Nasceu o avatar da cultura de massas que dá pelo nome de light culfure em oposição à destrinça entre high e low. O artista trabalha para o 'mercado', tal como o jornalista, sujeito ao raring das audiências e dos comentários online. A brigada iletrada, como lhe chama Martin Amis, venceu. Estão admirados? John Carlin, o sul-africano autor do livro que foi adaptado ao cinema por Clint Eastwood, "Invictus", conta que Nelson Mandela e os homens do ANC, na prisão, discutiam acaloradamente, apaixonadamente, Shakespeare. Foram "Júlio César" ou "Macbeth", "Hamlet" ou "Ricardo III" que os acompanharam. Não é um preciosismo. A literatura, o poder das palavras para descrever e incluir o mundo num sistema coerente de pensamento, é, como a filosofia e a história, tão importante como a física ou a álgebra. A grande mostra da Grã-Bretanha nos Jogos Olímpicos é Shakespeare (no British Museum) e não um dono de supermercados ou futebolista.
Os 'heróis' portugueses descrevem-nos. E descrevem a nossa ignorância. Passos Coelho é fotografado à entrada do La Féria ou do casino. Um dono de supermercados ou um esperto ministro reformado são os reservatórios do pensamento nacional. Uma artista plástica é incensada não pela obra mas pela capacidade de "agradar ao mercado", transformando-se, pela manifesta ausência de candidatos, em artista oficial do regime. É assim. Não teria de ser assim. Portugal tem hoje uma pequeníssima elite que consome cultura quase toda velha e sem sucessores. Não estamos sós. Por esse mundo fora, a arte tornou-se cópia e reprodução (daí a predominância dos grandes copiadores de coisas, os chineses), tornou-se matéria tornou-se consumo. Como bem disse Vargas Llosa, em vez de discutirmos ideias discutimos comida. A gastronomia é uma nova filosofia. Ferran Adriá é o sucessor de Cervantes e de Ortega Y Gasset.
Foto: Aqui vai o artigo da Clara Ferreira Alves, no Expresso deste fim de semana e de onde retirei um excerto que está por aí. Agora vai o artigo completo


pluma caprichosa

É A FALTA DE CULTURA, ESTÚPIDO

Portugal tem hoje uma pequeníssima elite que consome cultura, quase toda velha e sem sucessores

NOS MERECEMOS ISTO. Nós elegemos esta gente. Nós não somos muito diferentes disto. No meio do anedotário que converteria um homem mais inteligente num homem trágico, convém não esquecer o que nos separa, exatamente, do Relvas. Pouco. O dito não é um espécime isolado, um pobre diabo animado de força e disposição para fazer negócios e trepar na vida, que entrou em associações e cambalachos, comprou um curso superior e, de um modo geral, se autoinstituiu em conselheiro do rei. Já vimos isto. Nunca vimos isto nesta escala, porque na 25s hora da tragédia nacional, quando Portugal se confronta com a humilhação da venda dos bens preciosos (os famosos ativos) aos colonizados de antanho e seus amigos chineses, o que o país tem para
mostrar como elite é pouco. Nada distingue hoje a burguesia do proletariado. Consomem as mesmas revistas do coração, lêem a mesma má literatura (que passa por literatura), vêem a mesma televisão, comovem-se com as mesmas distrações. Uns são ricos, outros pobres. A elite portuguesa nunca foi estelar, e entre a expulsão dos judeus e a perseguição aos jesuítas, dispersámos a inteligência e adotámos uma apatia interrompida por acasos históricos que geraram alguns estrangeirados ou exilados cultos permanentemente amargos e desesperados com a pátria (Eça, Sena) e alguns heróis isolados ou desconhecidos (Pessoa, 0'Neill). Em "Memorial do Convento", Saramago dá-nos um retrato da estupidez dos reis mas exalta romanticamente o povo. Todos os artistas comunistas o fizeram, num tempo em que o partido comunista tinha uma elite intelectual e de resistência inspirada por um chefe que, aos 80 anos, quase cego, resolveu traduzir Shakespeare. Cunhal traduzindo o "Rei Lear" de um lado, Relvas posando nas fotografias ao lado da bandeira do outro. Relvas nem personagem de Lobo Antunes, o (descritor da tristeza pós-colonial, chega a ser. É um subproduto de telenovela O tempo dos chefes cultos acabou, e se serve de consolação, não acabou apenas em Portugal. A cultura de massas ganhou. No mundo pop, multimédia, inculto e narcisista, em que cada estúpido é o busto de si mesmo, a burguesia e o lúmpen distinguem-se na capacidade de fazer dinheiro. Acumular capital. O dinheiro, as discussões em volta do dinheiro acentuadas pela falta de dinheiro, fizeram do proletariado (e desse híbrido chamado classe média) uma massa informe de consumidores que votam. E que consomem democracia, os direitos fundamentais, como consomem televisão, pela imagem. Sócrates e o Armani, Passos Coelho e a voz de festival da canção. Nós, e quando digo nós digo o jornalismo na sua decadência e euforia suicidaria, criámos estas criaturas. Os Relvas, os Seguros, os Passos Coelhos, os amigos deles. O jornalismo, aterrorizado com a ideia de
que a cultura é pesada e de que o mundo tem de ser leve, nivelou a inteligência e a memória pelo mais baixo denominador comum, na esteira das televisões generalistas. Nasceu o avatar da cultura de massas que dá pelo nome de light culfure em oposição à destrinça entre high e low. O artista trabalha para o 'mercado', tal como o jornalista, sujeito ao raring das audiências e dos comentários online. A brigada iletrada, como lhe chama Martin Amis, venceu. Estão admirados? John Carlin, o sul-africano autor do livro que foi adaptado ao cinema por Clint Eastwood, "Invictus", conta que Nelson Mandela e os homens do ANC, na prisão, discutiam acaloradamente, apaixonadamente, Shakespeare. Foram "Júlio César" ou "Macbeth", "Hamlet" ou "Ricardo III" que os acompanharam. Não é um preciosismo. A literatura, o poder das palavras para descrever e incluir o mundo num sistema coerente de pensamento, é, como a filosofia e a história, tão importante como a física ou a álgebra. A grande mostra da Grã-Bretanha nos Jogos Olímpicos é Shakespeare (no British Museum) e não um dono de supermercados ou futebolista.
Os 'heróis' portugueses descrevem-nos. E descrevem a nossa ignorância Passos Coelho é fotografado à entrada do La Féria ou do casino. Um dono de supermercados ou um esperto ministro reformado são os reservatórios do pensamento nacional. Uma artista plástica é incensada não pela obra mas pela capacidade de "agradar ao mercado", transformando-se, pela manifesta ausência de candidatos, em artista oficial do regime. É assim. Não teria de ser assim. Portugal tem hoje uma pequeníssima elite que consome cultura quase toda velha e sem sucessores. Não estamos sós. Por esse mundo fora, a arte tornou-se cópia e reprodução (daí a predominância dos grandes copiadores de coisas, os chineses), tornou-se matéria tornou-se consumo. Como bem disse Vargas Iiosa, em vez de discutirmos ideias discutimos comida A gastronomia é uma nova filosofia Ferran Adriá é o sucessor de Cervantes e de Ortega Y Gasset. ©
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segunda-feira, julho 23, 2012

No tempo dos Marajás, Duques, Viscondes, Marqueses, Condes....

Com a devida vénia!
Director: Carlos Fontes

PORTUGAL
Um País de Marajás
Os portugueses não foram apenas à India (1498), onde se estabeleceram durante muitos séculos, absorveram também na sua cultura, os hábitos dos seus marajás.
A monarquia constitucional (1834-1910), colapsou, devido à quantidade de parasitas viviam à custa do Estado e dos seus apêndices, sem nada produzirem.
A primeira república em Portugal (1910-1926), anunciou que iria acabar com o parasitismo dos marajás, mas rapidamente ficou refém de políticos demagogos, incompetentes e corruptos que viviam da parasitagem no Estado.
A Ditadura (1926-1974), a segunda República, pretendeu também acabar com o desperdício e a parasitagem, mas cedo se percebeu que o que fez foi proteger uma elite que vivia na mais completa parasitagem protegida pelo Estado.
A terceira república, que começou em 1974, prometia um virar de página neste domínio. Pura ilusão. Os "marajás", como dizem os brasileiros, que pululam pelos partidos políticos não tardaram a dominar o aparelho de Estado, apropriando-se de tudo o que podem, conduzindo o país para um contínuo empobrecimento.
O perfil e os hábitos dos marajá, embora revelem alguma variação de marajá para marajá, estão perfeitamente tipificados:
- O Marajá considera as instituições ou empresas públicas como sua propriedade. O único a quem tem que prestar contas é a ele próprio. O secretismo sobre as finanças do país, da câmara, junta de Freguesia, empresa pública ou municipal, frequentemente em nome do "interesse nacional", é um princípio sagrado.
- O Marajá estabelece o seu próprio vencimento, de acordo com a sua suposta dignidade do cargo e presumidos méritos pessoais. Se legalmente não o poder fazer, e não poder mudar a lei, o marajá dedica-se a acumular cargos e mordomias (viaturas oficiais, almoços, viagens, despesas de representação, cartões de crédito, residências oficiais, subsídios de deslocação, integração, reintegração, horas extraordinárias, etc, etc) até perfazer tudo aquilo a que tem direito.
- O Marajá necessita de uma corte para o servir, e é por isso se faz rodear de assessores, consultores, funcionários para isto e aquilo. Muitos marajás, instalados por exemplo nas Câmaras Municipais e Juntas de Freguesia, transformam grupos populacionais, como os idosos e as crianças, em membros das suas cortes pessoais.
- O Marajá vive da pompa e circunstância, por isso não olha a custos em festas, recepções, prendas, pequenos e grandes luxos, não apenas porque eles são próprios do cargo, mas porque é próprio das suas funções públicas esbanjar recursos em eventos, comemorações e obras para dar animo ao povo.
Protecção dos Marajás
Os marajás da Assembleia da República ao longo dos anos foram produzindo uma sofisticada legislação que protege os marajás, impedindo que possam ser responsabilizados pelo descalabro que provocam na contas públicas.
Primeiro impediram que se possa conhecer com rigor quantas entidades se alimentam do orçamento do Estado (administrações centrais, regionais e locais, empresas, institutos e fundações públicas), consumindo 51% do PIB.
Depois limitaram a fiscalização pública destas entidades, nomeadamente através do Tribunal de Contas. Num universo estimado de 13.740 entidades que estão sob a jurisdição do Tribunal de Contas, apenas 1.724 apresentaram contas, mas só foram fiscalizadas 418 (Dados DN,8/01/2011). O descontrolo é total.
Por último, produziram uma legislação confere aos políticos portugueses a total impunidade no saque dos recursos do país, e que só em condições excepcionais sejam presos.
Marajás de Portugal
Não faltam marajás em Portugal, o problema é sempre o da sua selecção, tantos são os candidatos para os diferentes categorias. Correndo os risco de sermos acusados de ter cometido graves omissões, daremos alguns exemplos ilustrativos para as várias categorias, privilegiando os insuspeitos marajás.
Marajás carismáticos Apesar da enorme diversidade de estilos, estatutos e meios que dispõem, ou dispuseram, todos possuem uma característica comum: desfrutam ou desfrutaram de uma enorme popularidade junto do seu eleitorado, por mais desmandos que tenham feito. As suas redes clientelares, solidamente criadas, dão-lhes permanentes provas de reconhecimento e apoio. As regras da ética política e da decência, não se lhes aplica. Alguns atingiram o estatuto de total impunidade, colocando-se acima da própria Justiça. Nada os incomoda.
Mário Soares
Alberto João Jardim. Líder regional do PSD, critica todos os governos da República por falta de transparência, roubalheira e desvario na gestão da coisa pública. A verdade é que este governador regional da Madeira é o pior exemplo do país nestes domínios.
Isaltino Morais. Antigo militante do PSD, apesar dos vários casos em tribunal e de ter sido condenado por desvios de fundos públicos, continua a ser premiado nas eleições autárquicas com o voto dos municipes.
Avelino Ferreira Torres. Antigo militante do CDS-PP, como presidente da Câmara Municipal de Marco de Canaveses ultrapassou tudo o que seria imaginável de um autarca, sendo sucessivamente condenado pelos tribunais. A população local, imbecilizada, continuou a votar nele.
Marajás camarários As 308 câmaras de Portugal são um verdadeiro viveiro de marajás. É extremamente difícil A parasitagem está de tal modo instalada e enraizada, que deixou de ser questionada.
Câmara Municipal de Lisboa. A cidade de Lisboa, entre 1981 e 2008 perdeu 41% da sua população. No entanto neste mesmo período o número de funcionários, dirigentes, assessores, serviços, empresas municipais nunca parou de aumentar. Os custos com viaturas oficiais, deslocações, horas extraordinárias, subsídios, acumulações de vencimentos, prémios, promoções, atribuição de casas camarárias aos próprios funcionários e dirigentes, etc., etc., foi subindo exponencialmente.
Em Janeiro de 2010, as dívidas acumuladas da CML eram de 1,952 mil milhões de euros. Se a estas dividas somarmos as das 53 freguesias e das dezenas de empresas municipais de Lisboa, é fácil perceber que estamos perante um enorme esbanjamento de dinheiro dos contribuintes capaz de fazer felizes muitos pequenos e grandes marajás.
Apesar da câmara e das empresas municipais estarem falidas, os seus dirigentes municipais nunca deixaram de atribuírem a si próprios prémios pela excelência da sua prestação à frente das mesmas (1).
Este quadro torna-se ainda mais revelador do descalabro que a cidade mergulhou , quando se constata que o actual presidente da CML - António Costa - ao mesmo tempo que recebia uma reforma do Estado, auferia também o vencimento completo de presidente. O líder da oposição, o vereador Pedro Santana Lopes, recebe 2 (duas) reformas do Estado. A CML à semelhança do país é dirigida por políticos que acumulam mordomias e reformas do Estado.
Câmara Municipal do Alandroal. Nesta autarquia alentejana, cuja maioria dos seus 6197 habitantes é reformada ou pensionista do Estado, existe um funcionário para 28 habitantes. Apesar da população ter vindo sempre a diminuir, os presidentes da câmara não param de aumentar o número de funcionários, despesas com horas extraordinárias, gratificações, viagens, etc, etc. As dívidas não pararam também de subir, desde 2001 ao ritmo de 3 milhões por ano, ultrapassando todos o limites legais (2). Os marajás do Alandroal, à sua escala, não olharam a meios para criar uma corte de dependentes.
Câmara Municipal de Espinho. Os presidentes das câmaras municipais em Portugal, em vez de resolverem os problemas básicos para os quais as autarquias foram criadas, como verdadeiros marajás, esbanjam o dinheiro dos contribuintes em tudo aquilo que sendo importante, é todavia secundário.
Os exemplos não faltam, mas um dos que fizeram escola foi o da Câmara de Espinho. O Marajá local, em 2000, resolveu dar férias a cerca de 150 idosos do seu concelho no Brasil. Para preparar a visita de tão numeroso grupo, o marajá e outros funcionários camarários, andaram numa roda viva entre Portugal e o Brasil, até que por fim tirou dois meses à conta da autarquia para acompanhar a sua corte no Brasil. O espectáculo conforme consta na imprensa local foi esplendoroso no outro lado do Atlântico.
A partir daqui, outros marajás de câmaras decidiram enviar os seus "velhinhos", devidamente acompanhados pelo presidente, mais os respectivos vereadores e funcionários camarários, sempre devidamente remunerados, para os cantos mais distantes e exóticos do mundo.
Os marajás das Câmaras (308), distinguem-se neste capítulo dos marajás das juntas de Freguesia (4.260), cujos passeios com as suas cortes privativas de "idosos" e outros dependentes, em geral, não ultrapassam o território espanhol.
Marajás de empresas públicas Os marajás da empresas públicas são conhecidos por se lamentarem de ganhar pouco e desfrutarem de mordomias irrisórias. A única forma que encontraram para compensarem a sua escandalosa situação, é mostrarem o seu desprezo pelo dinheiro que dispõem. Eles estão acima das ninharias que preocupam o comum dos mortais.
CP - Caminhos de Ferro. O seu presidente ganha a módica quantia de 69.000 euros (2010). Este empresa pública registava, orgulhosamente, o mais elevado de número de chefias em relação ao total de funcionários. A corte de serviçais é impressionante, assim como os números dos prejuízos acumulados. Em 1996, o total de dívidas era de 2,2 mil milhões de euros. Decidiu-se então criar uma nova empresa, a REFER, para repartir as dívidas. Em 2099, o total das dívidas só da CP era de 3,3 mil milhões de euros.
Refer . Apesar de recente, os valores desta jovem empresa pública impressionam fazem inveja a qualquer marajá. Embora o seu presidente só ganhe a modesta quantia de 66.000 euros (2010), os números das dívidas acumuladas em poucos anos são próprios um grande marajá. Em 2009, a REFER já tinha uma dívida superior a 5,5 mil milhões de euros.
RTP. O seu presidente, recebe a irrisória quantia de 250.000 euros, mas em nada fica a dever a outros marajás em termos de prodigalidade. Em 2009, a dívida acumulada da RTP era superior a 800 milhões de euros. Prevê-se que nos próximos tempos, devido aos cortes nas receitas publicitárias, espera-se que ultrapasse a confortável posição de mil milhões.
Águas de Portugal. Em 2010, o seu presidente (ordenado de 126.000 euros), tornou-se conhecido da opinião pública, por furar a miserável contenção de gastos, promovendo a compra numa assentada de 400 novas viaturas para a corte das Águas de Portugal. Os marajás desta empresa pública, têm mostrado que não aceitam limitações à sua tradicional prodigalidade: Em 2005, deviam ao bancos apenas 1,2 mil milhões de euros, passando em 2009, para a expressiva quantia de 2,5 mil milhões.
Metro de Lisboa. O número de estações aumenta a conta gotas, mas o seu presidente (66.000 euros de ordenado), não se pode queixar. A dívida pública desta empresa não tem parado de aumenta, atingido esperando-se que em 2010, atinja os 4 mil milhões de euros, contra os 3,7 mil milhões do ano anterior. Tem sido uma fartote próprio de grandes marajás.
Metro do Porto. A empresa é recentíssima, contudo o seu presidente (96.000 euros de ordenado), pode apresentar já números que fazem inveja a qualquer marajá: uma dívida de 2,3 mil milhões (2010).
Metro do Mondego. A empresa foi constituída, em 1996 e até 2011, o único trabalho que realizou foi desmantelar a linha ferroviária que existia. Os prejuízos não param de aumentarem, assim como os seus 7 administradores, para gerirem 5 funcionários !. Em 2010, mais de 60% do orçamento desta empresa pública foi para pagar aos administradores (ordenados, mordomias, automóveis topo de gama, etc, etc). Uma das razões desta aberrante organização, está no facto das câmaras municipais locais ter exigido ao governo o direito de nomearem os seus marajás. Todos pretendiam participar no roubo do erário público.
Estradas de Portugal. Face aos números anteriores, o presidente desta empresa pública, está uma situação desconfortável. Em 2005 a dívida era de apenas 50,5 milhões de euros, uma ninharia. Graças à acção de vários marajás passou para em 2008 para uns animadores 910 milhões de euros, tendo atingido os 1,507 mil milhões de euros em 2009. Espera-se que em 2010 este valor da dívida seja superior a 2 mil milhões de euros.
Atendendo ao reduzido valor inicial da dívida, em 2007, o actual Presidente (Almerindo Marques) quando iniciou as suas funções, sem contar com as mordomias do cargo, só conseguiu um vencimento de 18.000 euros mensais. Desde 2008 o seu vencimento tem vindo a aumentar, acompanhando a subida das dívidas da empresa.
TAP . Os rendimentos do seu presidente (285.000 euros de vencimento), não tem parado de aumentar, assim como a dívida acumulada da empresa: 2, 5 mil milhões de euros (2009). O marijismo no seu melhor.
Parpública. Holding que gere as participações do Estado, desde há décadas que é um típico caso de polícia e imoralidade. Autoriza, por exemplo, prémios a gestores cujas empresas dão prejuízo.
A lista é infindável. Por incrível que possa parecer, o Estado central não sabe quantas empresas públicas possui. O Tribunal de Contas, em 2010, calculava que fossem mais de 700 empresas, a esmagadora maioria das quais são verdadeiros buracos sem fundo.
Marajás das Empresas Municipais As empresas municipais são presentemente o paraíso dos marajás de Portugal. Produto das máfias que dominam as Câmaras municipais (308), alimentam todo o tipo de marajás locais, incluindo os partidos políticos.
Ninguém sabe ao certo quantas existem em Portugal, quais as suas funções, quem são os seus gestores, quantos funcionários possuem, nem sequer qual o montante das suas dívidas. O poderoso lóbi das câmaras garante a total opacidade neste domínio.
Apesar disto, o Presidente do Tribunal de Contas, em Novembro de 2010, calculava que existissem mais de 2 mil empresas municipais. Mostrando-se particularmente preocupado com os montantes das suas dívidas. As futuras gerações vão levar décadas a pagar a roubalheira que já foi feita.
Trata-se de um mundo opaco, onde só a Polícia Judiciária consegue obter alguma informação. De tempos a tempos, alguns dos seus marajás são aborrecidos por terem posto dinheiro das empresas municipais numa conta na Suíça, dado algum a um familiar ou até a amigalhaços do Partido. Tudo coisas menores, que gente sem nível se preocupa..
Marajás das Regiões Autónomas As duas regiões autónomas de Portugal - a Madeira e os Açores - são presentemente um verdadeiro viveiro de marajás. A maioria deles, sobretudo na Madeira, formaram-se nos movimentos separatistas nascidos logo após o 25 de Abril de 1974. Habituaram-se a reclamar, a gastar e a extorquir tudo o que podem ao "Governo da República", sumariamente identificado com os "colonialistas" ou "comunistas" do continente.
Estes movimentos não tardaram a assumirem características mafiosas, em regiões cujas populações continuam a apresentar as mais elevadas taxas de insucesso escolar de Portugal.
As "Assembleias Regionais", ao longo dos anos, foram aprovando um vasto conjunto de medidas compensatórias para os marajás que estão desterrados nas ilhas. Os "custos da insularidade ou ultra-periferia" tem servido de argumento para sacarem importantes recursos financeiros à "República" que depois são esbanjados pelas diversas cortes de mafiosos. O hábito de sacarem já degenerou numa impune roubalheira:
- Os marajás da Madeira, por exemplo, possuem empresas privadas que trabalham directamente para o governo de que fazem parte. A promiscuidade entre o público e o privado é total. Os governantes e deputados atribuíram-se a próprios regalias que mais ninguém possui em Portugal.
- Os marajás dos Açores, em Dezembro de 2010, resolveram compensar as suas clientelas locais pelas perdas nos vencimentos decretadas pelo Governo da República para fazer face aos elevados níveis de endividamento do país. Os marajás dos Açores entendem que estão acima de qualquer crise económica, podem continuar a gastar, esbanjar e a endividarem-se sem qualquer controlo.
As duas regiões autónomas criaram também uma infinidade de empresas, cujas dívidas estão em total descontrolo. Ninguém sabe o que se passa neste domínio.
Nos Açores, em 2007, o Tribunal de Contas, denunciava que os gestores das 26 empresas públicas do Governo Regional, receberem salários milionários.
Na Madeira, em 2005, a maioria das 35 empresas públicas do governo regional estavam falidas, mas os seus gestores entregavam-se a uma roubalheira generalizada. Dados actualizados não existem, para que não se saiba a dimensão desta desbunda própria de grandes marajás.
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Marajás da Assembleia da República O prestígio devido à chamada "casa da democracia" está pelas ruas da amargura. Os seus deputados de direita ou de esquerda provocam nojo aos cidadãos, nas palavras de um deputado do PSD (Pacheco Pereira, 2010). As mordomias e regalias dos políticos portugueses, como a acumulação de reformas vitalícias, são o exemplo mais completo do roubo institucionalizado.
As anedotas que se contam na rua ou circulam na internet sobre os deputados portugueses ilustram a imagem que o parlamento possui junto da população.
Um exemplo:
" Um homem ia a passar junto à porta do Plenário da Assembleia da República e ouve uma gritaria que saía lá de dentro.
"Filho da Puta, Ladrão, Salafrário, Assassino, Traficante, Mentiroso, Pedófilo, Vagabundo, Sem Vergonha, Trafulha, Preguiçoso de Merda, Vendido, Usurário, Foragido à Justiça, Oportunista, Engana Incautos, Assaltante do Povo..."
Assustado, o homem pergunta ao segurança, parado na porta:
"O que está a acontecer ai dentro? Estão a brigar ?!
"Não", responde o segurança. "Para mim estão a fazer a chamada para saber se falta alguém"!!! (Internet,11/2010)
Em fins de 2010, num inquérito feito à população portuguesa, cerca de 80% indicava a Assembleia da República e os juízes como os principais responsáveis do descalabro do país (4).
Como foi possível chegar-se a este ponto de descrédito? A resposta está nas leis que os deputados criarem para alimentarem os marajás de Portugal, incluindo eles próprios.
Marajás dos partidos de esquerda Partido Comunista Português. A democracia em Portugal possui singularidades que a distinguem de qualquer outra democracia no mundo. Desde 1976 que o orçamento de Estado mantém um partido político na Assembleia da República que se limita a criticar todos os governos, recusando qualquer entendimento parlamentar ou coligação governamental. É o puro "deita abaixo" !
Recusou desde então qualquer alteração à constituição aprovada nesse ano, e votou contra todos os programas e orçamentos de Estado. A sua única função é destruir toda e qualquer política governamental, denegrir a imagem de todos os membros dos restantes partidos com assento na Assembleia da República e fora dela, e sobretudo impedir qualquer alteração no país.
O discurso do PCP nestes anos resume-se ao seguinte: É preciso distribuir tudo o que Portugal possui ou pode obter através de empréstimos. Os únicos que devem ficar de fora da "boda aos pobres" são os banqueiros e os grandes capitalistas, para que no final possam "pagar a crise".
Financiados pelo Estado, os "mãos largas" e impolutos marajás do PCP, enquanto esperam por uma pensão do Estado, e se divertem no "bota abaixo" em manifestações de rua ou na Assembleia da República, tornaram-se objectivamente no mais consistente apoio do marajismo português, impedindo qualquer mudança política.
Partido Socialista. A galeria de marajás deste partido é verdadeiramente notável, havendo todavia épocas de maior produção do que outras.
António Guterres à frente do Governo (1995-2001) foi, por exemplo, um mãos largas na promoção do Marajismo. António Maria Carrilho ilustra perfeitamente esta situação. Este excelso filósofo, resolveu numa assentada duplicar os organismos com autonomia administrativa no Ministério da Cultura, fazendo disparar de tal formas os custos, que em 2001 teve que pedir a demissão porque já não tinha dinheiro para mandar cantar um cego. Como recompensa foi escolhido para candidato do PS à CML, tendo perdido as eleições, foi promovido a embaixador de Portugal na UNESCO. Foi recentemente corrido do lugar (2010), porque resolveu esquecer-se que estava naquele posto para defender os interesses de Portugal, e não o que lhe passava pela sua brilhante cabeça.
Bloco de Esquerda. De partido de causas passou a partido de fretes ao serviço da Direita. A esperança de muitos dos seus dirigentes é que algum marajá do PSD ou CDS-PP lhes arranjem uns tachos.
Para mostrar a sua vocação ainda incipiente de marajismo, em plena crise económica, aliando-se ao PCP e à Direita votou a favor do aumento do ordenado dos presidentes das juntas de Freguesia. O Governo (minoritário) opôs-se a esta medida, que acabou por ser aprovada.
Marajás dos Partidos de Direita PSD. Estamos perante um partido cuja ideologia é um misto de "pragmatismo", "demagogia" e "oportunismo político", cujo principal interesse para os seus militantes reside na possibilidade de virem a obter de cargos no Estado ou nas empresas públicas ou com capital público. Quando estes não existem, o partido cria-os. O PSD foi, por exemplo, o partido que maior número de empresas municipais criou.
Não admira que no PSD se encontrem os maiores marajás que Portugal produziu nas últimas décadas de regime democrático, e que levaram o país à bancarrota em 2011.
CDS-PP. No discurso político é só virtudes, mas os exemplos de rapina e esbanjamento do erário público são dados pelos seus líderes, os quais aparecem envolvidos em escabrosos negócios de Universidades privadas, compras de submarinos, herdades no Alentejo, etc.
Funcionários Especiais Candidatos a Marajás O Estado Português está repleto de grupo de funcionários que, com o apoio de políticos corruptos e incompetentes, conseguiram estatutos especiais. Alegando estarem ao serviço de instituições especiais, como a Assembleia da República, conseguiram regalias e mordomias que constituem um verdadeiro roubo aos contribuintes. Cada um destes funcionários, independentemente das suas funções, sente-se no direito a ter os mesmos privilégios que qualquer outro marajá que vive do que o Estado saca aos contribuintes.
Marajás dos Bancos Públicos
Banco de Portugal. O santuário dos marajás de Portugal. Em 2007 ficou-se a saber que os seus administradores não apenas fixavam os seus próprios ordenados, mas também todo o tipo de mordomias, nomeadamente avultadas reformas obtidas num curto espaço de tempo. Chegavam ao requinte de fazerem empréstimos a si próprios com o dinheiro do banco público, mas a taxas mais baixas do que as do mercado.
O seu presidente Vitor Constâncio, antigo líder do PS, em 2009, ganhava 5 (cinco) vezes mais do que o Presidente da Reserva Federal dos Estados Unidos, Ben Bernanke. Em todo o mundo só os governadores do banco central de Hong Kong e do banco central de Itália eram mais bem pagos.
Caixa Geral de Depósitos. A Caixa, o principal banco de Portugal, tem sido objecto de um saque permanente por parte dos partidos políticos. Desde 1974 até 2010 deu guarida a 23 ministros ou secretários de Estado. A esmagadora maioria nunca esteve ligada ao sector bancário, o que não os impede de saltarem logo para o topo da hierarquia desta instituição para obterem chorudas reformas e vencimentos.
A ex-ministra da Justiça do Governo PSD-CDS, Celeste Cardona (2002-2004), num processo que chocou o país, entrou para administradora da Caixa poucos meses depois de sair do governo.
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Marajás das Forças Armadas Portugal ao longo de séculos sustentou sempre várias guerras, no continente e ilhas, mas também pelo mundo fora. Não admira durante este largo período, os oficiais das forças armadas tenha desfrutado de enormes privilégios. As guerras terminaram, em 1974, e desde então Portugal só participa em acções de paz no ambito da ONU.
Apesar disto, segundo a Stockolm International Peace Research Institut (www.sipri.org), Portugal, desde 1989, é o país com mais gastos militares em percentagem do PIB, no conjunto dos países europeus (UE-27, mais Islandia, Noruega e Suíça). É fácil perceber porquê. Um simples exemplo: só o Estado-Maior das Forças Armadas tem 75% de coronéis a mais (Out/2010). As mordomias dos oficiais em Portugal ultrapassam tudo o que é razoável, em qualquer democracia consolidada.
Marajás Moralistas No Governo, autarquias, empresas e bancos do Estado ou no Tribunal de Contas, deram exemplos de total esbanjamento de recursos públicos, próprios de grandes marajás. Acumulam reformas do Estado e outras mordomias, que o comum dos cidadãos está privado. Desfrutando de uma confortável situação económica, sustentada pelos contribuintes, estes marajás apelam agora à contenção das despesas públicas, à redução do consumo por parte da populaça. Estamos perante a mais tradicional das práticas dos marajás indianos, para quem a abastança faz parte da sua condição, e o Karma da miséria é inerente à populaça.
Cavaco Silva
Os portugueses nos discursos deste presidente, professor de Economia, habituaram-se a houver falar de contenção, combate ao desperdício, rigor das contas públicas, etc. A pratica deste marajá é outra.
Quando foi primeiro-ministro (1985-1995), não fez as reformas que a administração pública carecia, fazendo disparar o défice do Estado. Preparando o seu futuro como acumulador de reformas do Estado, em 1991, instituiu o subsídio de férias para os reformados ...
O BPN, um dos bancos ligados às fraudes que abalaram o mundo desde 2008, tinha como dirigentes vários ministros e secretários de estado de Cavaco Silva. Fosse por que motivos fossem, os seus investimentos neste banco renderam-lhe um lucro 140 por cento. Já depois de se ter descoberto as trafulhices deste banco, manteve no Conselho de Estado um dos responsáveis do BPN (Dias Loureiro).
As ligações de Cavaco Silva a este banco não terminaram nesta negociata entre amigos. Na Aldeia da Coelha, em Albufeira, escolheu para vizinhos Oliveira Costa e Fernando Fantasia, homens-fortes da SLN, a proprietária do BPN. Na génese deste loteamento estão empresas sediados em off-shores (paraísos fiscais). A escritura do lote do imóvel de luxo de Cavaco Silva, não se encontra no Registo Predial de Albufeira. Inquirido pela imprensa, Cavaco afirma não se recordar em que cartório a assinou. Um dos promotores da urbanização, velho amigo e colaborador de Cavaco, diz que a propriedade foi adquirida "através de um permuta com um construtor civil", sem acrescentar detalhes (Visão, Janeiro de 2011).
Desde que é presidente, as despesas da Presidência da República atingiram o valor mais alto de sempre. Cavaco Silva, no primeiro mandato na presidência, gastou mais 30% do que o seu antecessor. A RTP, em 2010, comparando o custo da Presidência Portuguesa com o da Casa Real de Espanha, concluiu que a corte republicana gasta mais do dobro do que a corte monárquica espanhola.
Padre Vitor Melicias
Este frade franciscano, conhecido pelo seus arrebatados apelos ao despojamento e à pobreza, como um típico marajá português, só de uma das suas reformas recebe 7.490 euros mensais...
Eduardo Catroga
O aguerrido coordenador do programa do PSD às eleições de Junho de 2011, que acusou tudo o todos de desperdício e ladroagem do erário público. O seu passado político é no mínimo tenebroso. Enquanto Ministro das Finanças de Cavaco Silva (Dez. de 1993 e Out.1995) deixou o país numa desgraça: contribuiu para a destruição do sector das pescas e da agricultura, aniquilou a Siderurgia Nacional. Aumentou o defice público e o desemprego. Quando abandonou o Estado, depois de ter penhorado as retretes do Estádio do F.C. do Porto, deixou o país numa recessão económica.
Com apenas 53 anos tratou logo de sacar uma reforma do Estado, a que se seguiram outras reformas, as quais atingem actualmente a quantia de 16.900 euros mensais.
Miguel Macedo
Dirigente do PSD que se destacou pelos seus ataques ao desperdício do erário público, durante o governo do PS. Quando foi nomeado ministro da defesa, tratou logo de acumular o vencimento de ministro com um subsídio de alojamento (1300 euros), sob o pretexto que não tinha uma residência permanente em Lisboa, mas a umas centenas de metros em Algés. (Out.2011). Para tornar mais ridicula esta argumentação, é preciso dizer que como ministro da defesa tem direito a uma residência oficial, com todas as despesas incluídas.
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Marajás Incorformados
Portugal está povoado de uma multidão de funcionários, empresários, artistas e todo o tipo de dependentes, que nunca fizeram nada de útil na vida que justificasse os ordenados, as pensões ou os subsídios que recebem do Estado português. Nada no país está à altura do seu refinado gosto, tudo é mesquinho e detestável. O seu ideal de vida era obterem da populaça uma boa fonte de rendimento, que lhes permitissem viver no estrangeiro, longe dos que os sustentam.
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Marajás Independentes A sociedade portuguesa foi criando ao longo dos tempos, uma série de instituições supostamente independentes do Estado. A sua função é vigiarem o Estado ou aplicarem a lei. Ciosos da sua independência face ao poder político, muitas dos que polulam nestas instituições afirmam-se acima dos problemas comezinhos com que se debate a população portuguesa, vivendo num total desvario próprio de grandes marajás.
Anacom- Autoridade Reguladora da Comunicação Social. O seu ilustre presidente- Amado da Silva ( 224.000 Euros de vencimento), depois de ter dirigido ao gabinete de Sócrates, deu largas nesta instituição pública à sua veia festiva. A ANACOM só nas comemorações do seu 20º aniversário gastou a módica quantia 150 mil euros (2010). Em Novembro de 2009, só em em brindes personalizados derreteu mais 31 mil euros, e um mês depois mais 30 mil euros numa festa natalícia. O somatório destas festanças é de tal forma exorbitante, que não foi revelando para não fazer inveja a outros marajás.
ERSE, Entidade Reguladora da Energia, Vítor Santos , 233.857 euros de vencimento, mais mordomias. O caso mais interessante desta Instituição está no facto dos seus presidentes, quando pedem a demissão do cargo têm direito a dois anos de vencimento (2010). Um esquema de verdadeiros marajás: Despedem-se mas ficam a ganhar.
ISP- Instituto dos Seguros de Portugal: Fernando Nogueira: 247.938 euros de vencimento, mais mordomias..
CMVM: Carlos Tavares: 245.552 euros de vencimento, mais mordomias.
Marajás de Institutos Públicos Os institutos públicos e organismos públicos equiparados funcionam como territórios privativos de marajás em ascensão ou em repouso forçado. Encontram-se espalhados por todos os sectores da administração pública, muitas vezes onde menos se espera.
No falido Serviço Nacional de Saúde, o Tribunal de Contas descobriu, em 2010, um destes territórios privativos: o "Serviço de Utilização Comum dos Hospitais" (SUCH): Administradores e funcionários atribuíam-se a si próprios prémios por objectivos não atingidos. Entre 2006 e 2008 as remunerações dos dirigentes cresceram 50%. Os prejuízos do SUCH, como é habitual nestes casos, nunca pararam de crescer.
Marajás de Fundações Públicas As fundações são instituições vocacionadas para a perpetuação de uma memória, a troco de um qualquer beneficio para a população. Em Portugal as fundações, em particular as criadas pelo Estado são instituições para marajás. O importante deixa de ser a suposta função para que foram criadas, para ser a vida dos seus presidentes e das suas cortes privativas.
Guimarães capital da Cultura 2012. Era suposto que um evento desta natureza, devia ser confiado a uma equipa de pessoas competentes, capazes de o aproveitarem para projectarem a cidade e a região a nível internacional. Puro engano. Em Guimarães tratou-se desde logo de criar uma Fundação, cuja presidente (Cristina Azevedo) e dois vogais executivos, não tardaram a projectarem-se a si próprios, nomeadamente pelos vencimentos que passaram a auferir, que variam entre os 14.300 e os 12.500 euros/mês, com direito a carros, telemóveis, senhas de presença nas reuniões (entre 300 e 500 euros), etc, etc. (3).
Como se tudo isto não bastasse, esta Fundação tem um vasto Conselho de Administração povoado de pequenos e grandes marajás, entre os quais se destacam: Jorge Sampaio, João B. Serra, Adriano Moreira, Diogo Freitas do Amaral, Eduardo Lourenço e Manuel Alves Monteiro. As suas remunerações variam entre os 14.300 euros e os 2.000, para além de receberem senhas de presença (500/300 euros), carro, telemóvel, etc. A Fundação só será extinta em 2020, de modo a continuar a alimentar por muitos anos uma vasta corte de marajás.
A Câmara Municipal de Guimarães e o Ministério da Cultura, povoados de marajás alimentam esta situação, num distrito com uma das mais elevadas taxas de desemprego de Portugal.
Seguindo uma habito típico dos grandes marajás, em Guimarães passaram a multiplicarem-se as encomendas de eventos (espectáculos, exposições, recepções e outras diversões) para gozo exclusivo da presidência da Fundação e da sua corte de dependentes. Nada aliás que já não tivesse acontecido em Lisboa Capital da Cultura (1974), Coimbra Capital Nacional da Cultura ou mesmo no Porto. Guimarães é hoje a mais celebrada Capital dos Marajás de Portugal.
Enquanto tudo isto acontece, Portugal em fins de 2010, aproximava-se alegremente da falência, carecendo de enormes ajudas internacionais para poder pagar as suas dívidas.