domingo, fevereiro 12, 2012

- Como estás?!

A tarde caía serena e o jovem Padre, de regresso da Rádio Renascença,  rua do Alecrim abaixo,  vento fresco a  cheirar a Tejo batendo-lhe na cara, caminhava em direção ao Cais do Sodré, onde havia de apanhar o comboio que o deixasse na sua paróquia. Tinha tempo de sobra e aproveitara para esticar as pernas, como era costume ouvir dizer de seu avô. Ainda pôde ver o sol a escapar-se para as bandas do Oceano, antes de entrar no átrio da enorme estação ferroviária por onde passam milhares e milhares dos seus concidadãos, num frenesim de idas e regressos para e da capital que foi de um vasto Império, a linda cidade de Lisboa.
Aproximou-se da máquina fornecedora do bilhete para viajar e logo um outro jovem, talvez da sua idade, cabisbaixo, marcas de uma vida mal conseguida, se aproxima com a lamúria habitual:
- Uma moedinha? É para comprar  remédios…
Hugo encara-o, sente-se preso naquele olhar tristonho e cansado e dispara:
- Como estás? E como te chamas?
Primeiro… inquieto, depois surpreendido tarda a responder…
- Ah!... estou bem, sou o Carlos…
- E como vieste aqui parar?
Um coçar de cabeça, mão pela orelha, depois cofiando a barba rala do queixo lá avança:
- Sabe?! Má cabeça. Baldas na escola, cigarros e outras porcarias. A droga. Agora a sida….
Preciso mesmo que me ajude…
Sem conselhos nem comentários descabidos, o Sacerdote pôs-lhe na mão uns trocados e avançou para o comboio do seu destino. Quase apinhada aquela carruagem. Como as outras, em tal horário. De pé, acomodou-se como pode, quando, pela janela, vê o interlocutor de momentos atrás, numa dobadoira, a espreitar pelas janelas, como se procurasse alguém. Quando conseguiu localizar quem procurava, entrou na carruagem, a custa avançou pelo corredor até que se abeirou do Padre Hugo:
- Então? Que é que te faz falta agora? – perguntou o sacerdote.
- Não me faz falta nada. Mas tinha de lhe dizer obrigado, muito obrigado!
- Mas de quê? O valor das moedas nem foi por aí além…
- Não é pelas moedas… É que, há seis anos que peço esmola nesta estação, muitos têm sido aqueles que me têm dado dinheiro, mas foi hoje a primeira vez que me perguntaram o nome e me disseram:
- Como estás?!

Sem comentários: